domingo, 1 de dezembro de 2013

Discurso em homenagem aos pais feito por mim para a formatura

Boa noite a todos!
Estou aqui, em nome de toda a turma, para falar sobre pessoas queridas, que tanto nos apoiaram, nos amaram, nos carregaram no colo por muito tempo e nos levaram à escola diariamente. São vocês, pais.
Desde os primeiros passos, nosso crescimento só foi possível, porque tínhamos mãos que nos ajudavam a levantar, mãos que nos faziam carinho, mãos que nos confortavam e que ainda nos confortam. Sempre tivemos alguém para conversar, para compartilhar os segredos da infância e da adolescência e ainda mais para abraçarmos. Foram vocês que mandaram para longe nossos medos e nos ensinaram a vencê-los.
Os momentos mais felizes, sem dúvida alguma, têm vocês por perto. Para falar a verdade, nossa busca incessante pela felicidade só é possível, pois no caminho que trilhamos, por mais que encontramos obstáculos, vocês nos explicam como avançar, como distinguir abismos de simples erros, como aprender a amar e, ao mesmo tempo, entender as consequências disso. Enfim, são valores, verdades e atitudes que aprendemos constantemente, para o resto da vida.
Mas não podemos esquecer os momentos de tensão e desentendimento que passamos juntos. Por mais que entristecemos, foi nessas horas que percebemos como são sábios. E nessa sabedoria, conseguem perdoar nossos erros e, ao mesmo tempo, ensinar lições de honestidade e caráter. O que seria de nós sem a palavra de vocês, não é mesmo?
Agora, em pleno terceiro ano do ensino médio, nos deparamos com obstáculos ainda maiores. Enfrentamos nosso maior medo. O medo das mudanças, do vestibular, de perder amizades não por vontade e sim pelas distâncias e escolhas. É nessa hora, que o nervosismo aumenta só de pensarmos em mudar de cidade por causa de um curso, um objetivo de vida que queremos seguir e temos o apoio de vocês. Longe ou não, amamos todos incondicionalmente (é recíproco, sabemos), e não será nem um pouco fácil conhecer a liberdade do mundo universitário, que muitas vezes nos prende à nossas dores e temores. O que fazer agora? O tempo de escola está se acabando. As portas das faculdades estão abertas. E sabemos que é preciso partir, levantar voo em direção a um horizonte imenso. Mais uma vez são vocês que têm que lidar com outra dificuldade: uma linha tênue entre a vontade de nos ter por perto e a consciência do passar do tempo e dos desafios da vida. A decisão tomada por vocês é muito complicada, e a consequência é o empurrão para o primeiro contato com o mundo adulto.
Daqui a pouco, somos nós que vamos querer cuidar de vocês e protegê-los para que possamos retribuir carinhosamente, desde às singelas palavras confortantes até aos calorosos beijos e abraços. Afinal, os muitos erros nos renderão acertos enormes. E nosso agradecimento é pela simples existência de todos vocês que estão aqui presentes ou não puderam vir. Cada lágrima que escorrerá de nossos olhos significará que a história de um amor entre pais e filhos é eterna. Assim com os olhares, as palavras, os conselhos. Amamos vocês porque são verdadeiros, únicos em cada detalhe.

Muito obrigados por compartilharem este momento ao nosso lado, nos apoiando e nos confortando neste fim de ano.

sábado, 19 de outubro de 2013

Carta Aberta

    Pessoal, abaixo, uma carta aberta com a temática das memórias históricas e afetivas, com enfoque nos idosos. O texto foi feito para as aulas de redação e está de acordo com as regras referentes à escrita e estrutura requerida pelos vestibulares como Fuvest e Unicamp. A única composição que NÃO deve constar nestes vestibulares (caso esteja especificado na proposta) é um nome próprio ou qualquer identificação do candidato (você!). Deste modo, a carta não deverá ser assinada com nome, como a que fiz!
    Atenção: os nomes que constam na carta são todos fictícios, assim como o destinatário.
   Espero que gostem!!! 





Piracicaba, 01 de outubro de 2013
Aos idosos do grupo de apoio “Reaja com vitalidade”

Conforme atingimos uma idade mais avançada, as lembranças começam a aparecer e diversas sensações permeiam nossa vida no que diz respeito aos laços afetivos e históricos fomentados ano a ano. Conhecemos pessoas, passamos por situações e ilustramos a ótica da nacionalidade.
Cada um de vocês deve se lembrar do passado de nosso país, do parâmetro internacional ou de alguma característica cronológica que marcou os antigos dias, como o atentado ao World Trade Center, o período populista e ditatorial brasileiro, ou mesmo o início de uma identidade marcada pelos novos ritmos musicais. São memórias como esta que devem ser resgatadas e analisadas por todos como bônus pelos tempos de vida.
Também podemos pensar sobre os laços afetivos e nossas vivências em busca de uma afirmação e estímulo ao futuro, reavivando a memória sem descuidar da saúde e das relações sociais em nosso convívio. O importante é manter constantes as observações diárias para que o exercício mental tenha resultados mais que positivos.
Deste modo, esperamos que compreendam que resgatar as memórias é o modo mais fácil de encorajar-se perante o mundo e demonstrar o quanto são importantes para ele. Afinal, tudo por que passamos se consolida nos resquícios de um Brasil em desenvolvimento, do qual somos os pilares mais importantes e antigos.

Atenciosamente,


Filósofa Cecília Toledo e psicóloga Sandra Diniz

A burguesia proletária grita socorro!


Há muito tempo podemos considerar o exercício do patriotismo do cidadão brasileiro como sucessivas críticas ao questionável modo de governar o país. A população foi às ruas, bandeiras foram defendidas, estudantes uniram-se, sistemas foram discutidos com as “Diretas já!” ou mesmo com o movimento dos “caras pintadas”. Porém, o veículo de comunicação vem se transformando e está, atualmente, muito além de cartazes feitos à partir de mimeógrafos. Chegaram as redes sociais.
Por decorrência delas é que no fim do primeiro semestre de 2013, impulsionadas por motivos distintos, pessoas de diversas idades saíram em protestos. A contestação divulgada pela mídia tecnológica, a respeito desses ideais revolucionários, permeou um problema de milênios: o descompromisso governamental com relação à saúde, educação, transporte e às liberdades individuais.
O Que nos deixa duvidar é a veracidade das promessas feitas pelos políticos apenas para manipular um povo sofrendo com a “baixa” autoestima. Deste modo, não temos certeza a cerca das mudanças que foram provocadas e serão executadas. E a população iludida sofre com os resquícios de um vandalismo manifestante fora do controle.
Será que compensou todo o apartidarismo? Ou este foi marcado pela intromissão do antipartidarismo? É evidente que ambos foram concepções que se contradisseram durante as manifestações e denunciaram o caráter perigoso da falta de liberdade gerada pelo grupo social. Mas o posicionamento adotado foi o que preocupou, pois este pode ter ofuscado os objetivos do protesto.
Milhares de pessoas saíram defendendo um ideal de “país melhor” em que a rede social foi a metáfora do “‘independência ou morte’ às margens do Ipiranga.” Mas, ao que vemos, um discurso presidencialista cessou a desconfiança do povo brasileiro. E as atitudes a serem tomadas daqui para frente não devem ser acompanhadas por regressos eleitorais. Enquanto isso, o povo espera, sofre e busca uma esperança inexistente há anos.


quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Sobre eles, sobre nós, sobre os outros!

Houve uma época em que a divulgação de informações era feita somente pela oralidade e não era possível distinguir um boato das verdades natas. Então fomos evoluindo, os resquícios da escrita foram surgindo e na Roma Antiga, os imperadores já nomeavam delatores para que circulassem pelas ruas ouvindo as fofocas e criando outras contrárias, caso estas prejudicassem a imagem da soberania. O que só demonstrava o poder da fala em uma crescente.
Aos poucos surgiram outros meios de dissipar as notícias, pois havia a necessidade de controle social e político das massas. E o rádio foi o grande destaque neste momento. À partir deste aparelho é que os rumores serviram de política “adestradora” da população, que ocorre até hoje, com a revolução tecnológica responsável pela criação das redes sociais.
Obviamente que, mesmo com a internet, é muito difícil confiar na veracidade dos fatos que nos são apresentados. Por isso que, no campo internacional, observamos a China ameaçando a condenação de quem espalhar boatos “virtuais”. E a explicação para esta atitude está muito além da interpretação correta de “liberdade de expressão”. São necessárias atitudes.
Não bastou essa inconformidade da segunda economia mundial e nem mesmo explicitar a linha tênue que separa o caos de pequenos rumores maldosos. Pelo simples fato de que estes são a mais velha mídia do planeta.
A única forma de cessar a introspecção causada por esta difusão informativa é ir além dos conceitos educacionais competitivos e patriotas que mascaram as políticas em todos os cantos. Como foi dito por Mandela: “Fofocar sobre os outros é certamente um defeito, mas é uma virtude quando aplicado a si mesmo”.









Sinta! Por si só....

   E quando bate aquele sentimento forte que não se pode acalmar ou segurar. E você percebe que o mundo está ali, você está ali, assim como sua família. E a vontade de ler chega e de escrever e de desenhar e de assistir e de amar e de sonhar. Não se pode resistir. Mas os olhos só enxergam aquele objetivo lá no fim. Um tal de vestibular. E tem a pressão da prova, do conteúdo, "do continente", da metonímia, da escola. A lágrima escorre mas não sacia a sede de chorar e de mudar o rumo da situação.
   É extremamente difícil ler e escrever enquanto se estuda ou se precisa estar estudando. Os pensamentos são tão inóspitos e inconsequentes. São preenchidos de abismos de matéria e mais matéria. E ficamos cansados de tanto pensar, de tanto estudar. Mas o tempo está acabando e o tal do vestibular está mais próximo. Os estudos, não sei porque eles estão tão amedrontadores.
   Força de vontade não pode faltar. Mas de quê adianta estudo sem questionamento, sem dúvida e sem preocupações, né? Siga seus objetivos e pronto. Que eu sigo os meus também e vejo se esqueço de amar, de sonhar de cantar de ler de escrever a vírgula. É preciso ter o tempo pra descansar, pra se divertir, pra se querer viver.
   Precisamos aproveitar a vida, como se fosse um pássaro em seu primeiro voo, ou mesmo um livro em seu lançamento. As atitudes vêm depois, com o tempo. E com a aprendizagem desse ano mais do que corrido. Uma hora os sonhos se libertam e os pensamentos esmiúçam a pele em busca de vitalidade, em busca de saciedade, de escrita e de amor.
   Temos é que nos aquietar e esquecer que o sistema de ensino é o ditador de uma constituição composta por notas e valores adquiridos, principalmente, na teoria. A libertação vem aos poucos, quando descobrimos que somos mais que o "sistema" e que o binômio conhecimento/identificação é conceito pronto e irreparável e somente mutável por nossa consciência.
   Então leia, escreva, ame, divirta-se... Viva com intensidade cada momento, cada olhar, cada sentimento e vontade. Pois o tempo nos traz o que ainda não queremos enxergar. E nossa visão se expande a cada nova brisa. E nossa opinião muda a cada instante. Resquícios de um antigo sofrimento.

terça-feira, 10 de setembro de 2013

sábado, 24 de agosto de 2013

A família ideal por trás de um perigoso rodízio de pessoas


Há muito tempo, Martinho Lutero disse que “a família é a fonte da prosperidade e da desgraça dos povos”. Podemos adaptar esta frase às mudanças que estão ocorrendo atualmente. Assim, entendemos que esta instituição é enriquecida pelas relações sociais e pela educação transmitida pelos pais, mas, em contrapartida é corrompida pelo desrespeito dos povos que a desgraçam.
Na Grécia Antiga o patriarcalismo se mostrou forte e evidenciou a supremacia masculina no domínio da sociedade. Esse modelo foi desfeito com o passar do tempo e mesmo assim, tornou-se muito relevante nas discussões sobre igualdade e respeito. Porém, o assunto que tomou seu lugar se assemelha ao preconceito e é direcionado às novas famílias que estão emergindo. São estas, os casais homossexuais que, para a Igreja, contradizem a antiga tradição religiosa de pai e mãe sendo um homem e uma mulher.
Definitivamente muitas barreiras foram quebradas, como a legalização do casamento homoparental em alguns locais e o “despertar” da mulher para o mercado de trabalho. São estes aspectos que recriam a definição de uma instituição onde o que deve importar é o bem-estar físico e social de seus integrantes. E as imposições de outrora mostram como o nosso e outros países estão ainda desatualizados. Não existem mais padrões a serem seguidos. Uma boa família é você quem faz. São as atitudes de cada um.
Como disse Engels em seu livro “Origem da família da propriedade privada e do estado”, existe “uma ligação da família com a produção material, utilizando-se do materialismo histórico e dialético e relacionando a monogamia como "propriedade privada da mulher”. E essa escolha já definida não é mais válida hoje em dia. Cada um decide como cultivar seus familiares e criar laços socialmente afetivos. Caso contrário, é como se estivéssemos enlatando pessoas de sexos diferentes e vendendo em prateleiras nomeadas: “escolha seu parente”.

O comércio familiar imposto pelo estado, pela igreja e pela mídia é extremamente prejudicial, até mesmo à educação. E aos poucos se iniciará uma batalha que perdurará por muito tempo. Pois a essência da família precisa ser resgatada e as vitrines desta venda não podem ter expostos os filhos.

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Querida

     E de repente ela não está mais aqui. A morte bateu na porta de uma querida, e as desculpas para dispensá-la infelizmente acabaram. De uma hora para outra, momentos ruins e sofridos chegaram, desestabilizaram o cotidiano, mudaram costumes. Tudo foi feito para “abastecer o combustível”. Mas este já era insuficiente para suprir todo o necessário e mesmo para ser suportado por este “tanque” de 13 anos. “Tanque” no melhor sentido da palavra, muito conservado, confesso. Mas que o tempo feriu, e não houve como restaurá-lo.
        Lágrimas correram. A respiração tornou-se ofegante. Os olhos fecharam-se aos poucos. E foi só possível ouvir a “operação dos funcionários deste posto”. 48 horas e o que antes funcionava, foi perdendo sua função. Porém, o que existe de mais belo e incontestável neste mundo, foram as lembranças que sobraram. O ápice de um sofrimento que acabou para ela. Estendeu-se para nós e deverá ser passageiro. Agora ela está bem. Repousa. Relembra sua trajetória. E isso não é um ponto final. É uma ponte para algum lugar, algum momento mais calmo e feliz. Tranquilidade. Tristeza. Reconhecimento de que tempo passa. E de que eterno só ele mesmo.

         E agora entendi para quê servem as fotos! 

quarta-feira, 19 de junho de 2013

Um Brasil, antes distraído, na busca pela consolidação de um Estado com atitudes

Para ler este texto é preciso tomar conhecimento de alguns conceitos de grande embasamento no decorrer dos argumentos. E lá vão eles:
- História: “ciência que investiga o passado da humanidade e seu processo de evolução, tendo como referência um lugar, uma época, um povo ou um indivíduo específico”.
- Pacífico: “amigo da paz, sereno, tranquilo. Que é aceito sem controvérsias ou oposições; indiscutível”.
- Socialização: “ato de transmitir aos indivíduos os padrões culturais da sociedade”.
- Manifestação: “ação de tornar público. Ato de expressar um pensamento”.
- Vandalismo: “destruição do que é respeitável pelas suas tradições, antiguidade ou beleza”.
- Estado: “nação politicamente organizada e dirigida por leis próprias”.

Agora, já se é possível ler e retirar em meio aos questionamentos, suas próprias conclusões.

Há alguns dias o Estado provocou na população em geral um crescimento de um nacionalismo e preocupação com a condição miserável do país. A “labareda” serviu para “incendiar” o “coração” do povo brasileiro e abrir os olhos de muitos de nós que estamos sendo enganados por políticas públicas de investimentos invisíveis.
Aliado a este acontecimento, observamos uma Copa das Confederações ocorrendo e a proximidade devastadora da Copa do Mundo de 2014 e das Olimpíadas de 2016. Foram as mais altas “cifras” investidas (e com excesso de gasto “previsível”) para que criássemos estádios altamente tecnológicos em muitos lugares em que estarão deslocados da condição social da população, como em Cuiabá e em Manaus. É válido lembrar que não se faz um evento com “máscaras”, é preciso mostrar a “cara” desse país. E a falta de investimentos na educação, saúde, segurança, transporte público, e em muitas outras áreas fez com que mais de 200 mil habitantes brasileiros se reunissem em uma manifestação (um protesto) em sua maioria pacífica, a fim de reivindicar nossos direitos como nos é viável pela Constituição Federal.
Absolutamente, esta é a hora certa de um movimento como este, para “acordar” esse país tão despreparado e desrespeitoso com todos. Estamos passando por um marco histórico do Brasil que, instigados pelo aumento de R$0,20 e pela violência de policiais, provocou uma rebeldia mútua que fez com que ruas e mais ruas fossem cercadas em meio aos protestos.
O problema é a minoria de vândalos que tem como sinônimo de protesto, violência e depredação de patrimônio público (aí sim que se deve a intervenção de policiais, segundo a constituição), causando o transtorno momentâneo.
Ressalvo que a ocupação do Congresso Nacional foi uma das mais viáveis maneiras de se chamar a atenção do mundo inteiro para o “gigante” que agora, mas só agora, resolveu acordar e lutar veemente pelos seus direitos. O abraço ao congresso, as frases gritadas, o hino nacional cantado em alto e bom tom, evidenciaram o quão brasileiro nós somos e queremos o melhor ao nosso país.
Existiram vaias, o discurso da Dilma, o ataque bipolar da Mídia Global e o confronto entre o Estado, a População e a Mídia. Assim, independente de tudo, o que está em jogo não é a vitória da Seleção brasileira na Copa das Confederações e sim, a vitória de um Brasil com mais direitos, sem corrupção, com investimentos, apreciado pelo mundo, para que possamos nos orgulhar de uma “pátria amada”, terminando o canto de um hino.
O protesto com objetivo e sem vandalismos é importante e necessário, as intervenções e melhorias do governo também. Não podemos pensar que sentados no sofá e assistindo às redes de televisão decidirem o que fazemos e o que pensamos, conseguiremos avançar institucionalmente. A mídia não deve nos corromper e é preferível essa atual imparcialidade mascarada frente aos acontecimentos recentes. Mas também não devemos dar liberdade o suficiente para que isso ocorra na frente de nossos olhos.
O Brasil precisa de nós. A juventude está em processo da luta pelos direitos. E o “#vemprarua” tem que servir de exemplo às próximas gerações, para que não sejam corrompidas como fomos por muito tempo.

Repetindo o bordão criado pela Fiat: “Vêm pra rua, porque a rua é a maior arquibancada do Brasil”. É nesse patamar que devemos jogar e “driblar” todo esse estado corrupto e imaturo. Estamos no fim do “segundo tempo” e precisamos de um “gol”.

quinta-feira, 30 de maio de 2013

Nice e a vida - Capítulo III - Parte seis

Um novo dia  se iniciava e uma imensa clareia abriu-se em minha mente. O que seria de nós, nas mãos daqueles doidos que perseguiam meu querido poeta? Era uma pergunta que não tinha resposta. Bastou-nos tomar um café e ir atrás de informações. Então ocorreu o que menos esperávamos. Chegando ao antigo saguão do hotel colonial onde havíamos ficado, um tiroteio nos amedrontou. Eram visíveis as balas atravessando vasos, quadro, pessoas e crianças. O medo em nossos olhos e nos olhos de todos era extremamente visível. Saímos correndo, mas fomos surpreendidos por uma armadilha. Eu acabara de me separar do poeta. Uns sujeitos vestidos de preto levaram-no de mim e eu fora pra longe dele. Outros homens me seguraram. O acetinado de suas roupas mostrava-me a classe com que bolaram a enrascada. Nossas vidas estavam sendo vigiadas há tempos. Eu temia tudo e todos. As cordas passadas em minha volta não me deixavam mexer sequer um músculo, o pano em minha boca amordaçava-me e, ao jogarem-me dentro de um carro, bati a cabeça em uma caixa metálica e reluzente ao meu lado, desmaiando. 

Continua na próxima semana, com o capítulo IV...

domingo, 7 de abril de 2013

O sangue feminino ainda injustiçado


Essa narrativa minha participou do 8o Prêmio Igualdade de Gênero. Na temática estavam as relações de gênero entre homens e mulheres tão polêmicas atualmente. Espero que gostem e apreciem esse forte e marcante texto, em busca da valorização feminina e término do preconceito ainda vigente. 

O sangue feminino ainda injustiçado

Percebi o tiroteio quando a primeira bala acertou a janela do meu quarto. Foi o tempo de saltar da cama e me esconder atrás de uma parede falsa dentro do meu guarda-roupa. A previsão de muitas vezes acabara de se tornar realidade. Senti-me segura somente quando agarrei meu caderno, já amarelado, e um pedaço de lápis com o qual comecei a escrever e reviver momentos dramáticos de minha vida.
A primeira coisa que me veio a mente foi minha mãe. Lembrava-me do rosto cansado, das tantas lágrimas derramadas, de toda violência sofrida. Dos espancamentos que sofrera, das constantes humilhações por ser pobre e negra no Brasil.  O contínuo barulho dos tiros fazia-me lembrar do sofrimento que a corroeu por muitos anos, assim como as desigualdades e agressões. Minha infância foi difícil. Em pleno auge da Segunda Guerra Mundial, eu ficava horrorizada com as notícias que ouvia, das pessoas sofrendo, morrendo. Só podia imaginar o sangue escorrendo nos bueiros, como a chuva tranquila e refrescante que aterrorizava os moradores de rua no mundo inteiro. Os corpos estirados no chão, os pedaços de seres humanos em cada esquina, era difícil imaginar como meu pai reagia a tudo isto, enquanto participava dos conflitos. Enquanto atacava a Itália, que muito me custou descobrir o que era, pois eu não estudara, não havia professor disposto a isto, todos ficavam com medo de sair às ruas, de ensinar pobres coitados, sem dinheiro algum. A situação só piorava, mas para quem já estava esperando pelo pior, não fazia diferença. Era triste lembrar que, depois da morte de meu pai na guerra, fomos expulsas do cubículo onde morávamos e passamos dias mendigando, em busca do alimento de cada dia e de um trabalho para uma pobre mulher, minha mãe. Sentia-me horrível em vê-la sendo maltratada pelos homens que passavam pelas ruas. A cada chute que levava, uma nova lágrima escorria pela minha face em busca de um refúgio, com medo de tanta maldade. Não existiam direitos para as mulheres, não havia justiça nas ruas, onde o sol nascia cada vez mais próximo. O calor aderiu à pele já suada, a refletir com um espelho d’água sob o sol cotidiano. Os dias passavam e a cada minuto ficava mais difícil, para minha mãe, conseguir um emprego. Até que um homem qualquer ofereceu o cargo de carregadora de encomendas na quitanda da qual era dono. Garanto que foi por pena, por todo o tempo que nos enxotou da frente de seu comércio de onde relutávamos em sair. O fato é que com este emprego era possível comprar umas torradas de pão velho, sobrando algumas moedas para o jornal, material indispensável em nosso dia-a-dia. E nos aquecia ao anoitecer.
Nossa vida mudara. De pedintes, fomos promovidas a “escravas”, com minha mãe recebendo aquela miséria. Para nós não existia nação, fé ou mesmo patriotismo. Existia a mulher sendo inferior, como se ainda comesse, dia e noite, a maçã, já globalizada, de Eva. E para piorar nossa situação e resolver suas dívidas sujas, o quitandeiro obrigou o casamento com minha mãe. Não que isso fosse sinônimo de liberdade, pois a mesma estava tão distante. Nem que ela tivesse outra opção a escolher. A rotina da coitada não mudara, apenas ganhara o título de “mulher do quitandeiro”. Novidade foram os pontapés, socos e tapas recebidos do homem que se dizia marido. Se uma laranja caísse de uma encomenda e porventura estragasse, a violência começava. Cada vez pior. As marcas e os hematomas só eram percebidos por mim. O sangue que escorria em sua face lembrava-me do triste motivo que deixava de lado meu título de menina. Concluí que a sociedade era cega para nós, as mulheres.
Não era possível lutar pelos direitos. Não existiam direitos. Só era possível observar o progresso do voto feminino, logo adotado. A escravização escondida era clichê na época. A Segunda Guerra Mundial já havia acabado há doze anos. Os direitos femininos já eram reivindicados, porém timidamente. Minha mãe continuava a apanhar e, como um bônus, passou a ser violentada. Com choro constante, era possível ver em seus olhos a dor que por muito tempo não existiu. A imposição masculina no beco onde vivíamos só aumentava. A mulher ferida era o presente e a morta era o futuro. Com minha mãe não foi diferente. Era violentada dia e noite, depois submetida ao esforço físico por dezesseis horas seguidas, carregando e descarregando caixas e mercadorias. Seu corpo já não aguentava. A velhice chegou mais rápido que o imaginado. O organismo frágil estilhaçava como um cristal ao cair das mãos de uma dama. Cristal nunca lapidado. Com sua morte, as coisas só pioraram.
O corpo foi jogado no rio por aquele que a resgatara das ruas. Eu fui despejada, pois não tinha serventia e ainda reclamava de toda violência. Voltei às ruas, dessa vez mais entristecida. A morte, para mim, foi como uma pancada. O tempo passou e as marcas não sumiam. E não sumiram. Sem ter como sobreviver, tornei a implorar por comida, por dinheiro. Ser negra não era tão fácil. Pelo contrário, o preconceito era enorme. Ele já fora maior, mas era ainda bem visível, o que dificultava a liberdade feminina.
Desde o fim da Segunda Guerra Mundial, houve uma ascendência do movimento feminista tanto dentro como fora do país. Muitas mulheres resolveram exigir seus direitos. A luta íngreme contra o preconceito racial, étnico, social e sexual era como uma terceira guerra. Muito difícil, porém vi uma chance de mudar minha vida. Com a fortificação do feminismo, a violência explícita foi diminuindo. Entretanto, para não perder o hábito, fui levada em um dos últimos tráficos “quase” escravistas. Eu acabara de ser sequestrada por um dono de fazenda que me vendeu para um sertanejo. A viagem foi longa e percebi um caminho começando a ser trilhado. Igual ao de minha mãe. Eu apanhava, era violentada e tinha que trabalhar por horas e horas na caatinga sertaneja. A forte insolação fez-me lembrar do acompanhante de minha mãe. O sol era escaldante e árduo; a cada gota de suor que pingava na terra, brotava um reinado de infelicidade. Não sabia como sobreviver às terríveis condições a que estava submetida. Caí. Senti-me cada vez mais sem serventia. Uma escrava de novos tempos a semear lágrimas de sangue e desmotivação.
Por pouco não morri no nordeste. Quem morreu foi quem me tinha comprado. Vi neste ocorrido uma possível liberdade. Cautelosa, fugi e aderi a um grupo de mulheres mais próximo, o Movimento das Ligas Camponesas no Nordeste. Por sorte, descobri nos jornais que encontrava e tentava decifrar, que estes movimentos começavam a ascender, tinham muitas participantes e entendi seus objetivos. Foi minha maior chance de clamar por justiça. Eu começara a lutar a favor do direito feminino, contra o preconceito, a violência. Com novos direitos estabelecidos foi possível reconstruir minha vida. Arrumei um emprego, que me rendeu pouco mais do que minha mãe ganhou do quitandeiro. Aos poucos foi possível conhecer pessoas, mulheres que passaram por problemas muito parecidos. E juntas, passamos a morar em uma casa antiga, pouco melhor que um barraco, mas era o que o dinheiro poderia pagar. O sol fora substituído por espaçadas sombras. O sorriso em meu rosto ficara mais visível.
O mundo mudara, mas muitos dos preconceitos étnicos raciais prevaleciam. Víamos algumas mulheres mortas, decorrente da precariedade da região onde vivíamos. A ascendência do poder militar assustava muitas pessoas. Nas proximidades de nossa moradia, os ataques a grupos feministas eram mais frequentes. Ficamos preocupadas, sem ter a quem ou a que recorrer. Os dias passavam. Era o fim de 1979 e o país tinha um novo governante, uma nova década começaria e, aos trinta e quatro anos, meu medo da violência diminuiu.
Apertada no buraco, atrás da parede falsa de meu guarda-roupa, ouvia frequentemente os tiros atravessando os outros quartos, os outros cômodos. Ouvia os gritos de dor das outras mulheres que aqui residiam. Sentia o cheiro da morte, das injustiças não combatidas totalmente. O medo ressuscitava em meu interior. As lágrimas brotavam como cachoeiras de sangue dos tantos mortos na guerra. Eu implorava pela vida.
“Ela morreu!”; “Não resistiu ao tiro, símbolo do preconceito ainda vigente em nossa nação.”.
Estas eram as manchetes em todos os jornais. O país ficou paralisado com tamanha violência e preconceito contra mulheres que, simplesmente, lutavam a favor de seus direitos. O feminismo não deixava de se fortalecer. Eu, mulher, jornalista e revolucionária, derramei inúmeras lágrimas ao resgatar, trinta e poucos anos depois, a triste e real história de mãe e filha, resquícios de um antigo jornal, para provar, perante todo o país, que a violência prevalecera.
Estamos em um novo século, os problemas na desigualdade de gênero não foram resolvidos, o número de mulheres mortas, violentadas e espancadas ainda é enorme. De que adianta dizer que a mulher é livre e que os direitos são iguais, se atualmente muitas mulheres são submissas aos homens, sendo as “donas de casa”, cuidando dos filhos e dos afazeres domésticos, antes mesmo de pensar em seu próprio trabalho. Será que chamá-las de matriarca da família lhes dá alguma impunidade? Não, pois o desrespeito continua, e matriarca tornou-se sinônimo de “dona de casa”. Ou, para alguns, um objeto sexual, usado e descartado quando convier.
Ser mulher, no Brasil, não é fácil. É preciso estar sujeita a agressões, violências e até mesmo perseguições. Deste modo foi criada uma lei, só para mulheres, para testar se o preconceito diminuía. Adiantou, mas não o cessou. Será necessária uma vingança como a da “Senhora” de José de Alencar? Ou mesmo uma mulher como Margaret Thatcher, com toda sua imponência, firmeza e certeza, uma nova Dama de Ferro? São perguntas impossíveis de responder no contexto em que vivemos. Neste país onde cada gota de sangue e choro feminino derramado, representa um rasgo em nossa bandeira, uma falha em nossa constituição, um tiro em nossa moral.
Não podemos ficar paradas, como “Amas de Leite”, alimentando a violência, desigualdade e o turismo sexual. Aderindo ou não a movimentos feministas, é necessária a luta por nossos direitos. O mundo inteiro precisa refletir, se nos tornaremos livres e iguais ou se precisaremos “atear fogo”. Teremos que fazer o sangue aveludado brotar, dos muitos malditos “barões” que ainda existem, dos que, por muito tempo nos fizeram sofrer. Ou a situação muda, ou quem nos matou precisará morrer, com a mesma facada.
Guilherme Cardoso Contini

sexta-feira, 5 de abril de 2013

Que seja o ópio, mas para o bem


Utilizando o gerúndio do verbo ler podemos formular frases como: Estou lendo um livro. Mas não são muitos os que as fazem, pois mesmo no século XXI a leitura se apresenta distante, assim como o ato de escrever. Inicialmente com caráter pictográfico, a escrita se mostrou em crescente modificação. E junto a ela, a interpretação das informações caracterizou-se um benefício ao longo dos anos. Bastou uni-la ao poder da leitura para o surgimento dos livros e das mais diversas transformações.
Durante o crescimento e a elaboração dos valores, várias pessoas tornam-se seres críticos, pensantes e com opinião própria. Na maioria são grandes as influências de narrativas nas quais embarcamos desde pequenos. Esse mundo ficcional, para Platão, afastava as pessoas da verdade, porém, para Aristóteles, apenas tornava mais compreensiva a realidade. Tangenciando as contradições podemos afirmar o quão imortal tornam-se as coisas ou nós mesmos ao término de uma dessas histórias.
Com o tempo, o acesso aos diferentes textos amplificou-se de maneira extraordinária. Em toda cidade é possível encontrar ao menos uma biblioteca. E no cotidiano, seu acervo mostrou como podemos ampliar o vocabulário e os conhecimentos.
Sim, “leitura, antes de mais nada, é estímulo” como disse Ruth Rocha. É exemplo para amplificar os cidadãos intelectualizados que “engrandecem a alma” por causa dela, como divulgou Voltaire. Tornar-se um leitor crítico transforma qualquer causa em consequência, ideia em realização, basta o empenho de cada um.
Filosoficamente a dedicação se dá pelo questionamento. E pela literatura, como retificou Clarice Lispector, “Enquanto tiver perguntas e não houver respostas, continue a escrever”. É pelo exercício desta habilidade que nos desenvolvemos da melhor maneira.
Assim, é visível um problema: a quantidade de pessoas que nem se interessa ou se preocupa com a escrita ou leitura. É gente sem “fome” de conhecimento por intermédio delas, que, para Carlos Drummond de Andrade, “são uma fonte inesgotável de prazer, mas por incrível que pareça, a quase totalidade, não sente esta sede”. Não se deve radicalizar, somente permitir às crianças de hoje a leitura que muitas não tiveram antigamente. O importante é ser crítico e para essa liberdade, convém uma boa dose de escritas para se ler.




terça-feira, 2 de abril de 2013

Nice e a vida - Capítulo III - Parte cinco


    Acordei, dessa vez antes que ele. Tomei um banho, preparei um café e fiquei a sua espera. Como ele não acordava, comecei a observar sua casa, seus móveis, suas coisas. Foi aí que encontrei um bilhete, próximo a uns cadernos em uma mesa de canto. Mais especificamente um recado. Intitulado como: “para um tolo”, era de autoria do Doutor C. Este avisava-lhe do tempo que tinha para se entregar, caso contrário eles já haviam descoberto o local onde mora, pois o tinham visitado na noite passada. Suspirei. Meu espanto foi enorme. O nervosismo acabara de iniciar e percebi o perigo que estávamos correndo. Observando a data, descobri que essa “noite passada” foi ontem, depois que dormimos. Lágrimas correram por minha face e tive medo de estar sendo conivente para uma situação como em Hamlet, onde a morte foi a protagonista e, ao mesmo tempo, foi o clímax da situação. Bastou o poeta acordar para descobrir por mim, o que acabara de encontrar.
   Não conseguimos ao menos encostar nos lábios a comida. O ódio tornava-se visível.        Pegamos algumas coisas, entre roupas e documentos importantes para então, sairmos daquela casa sem o intuito de voltar. Os passos largos e apressados demonstravam a rigidez de nosso amor. Conseguimos, inicialmente, um hotel em uma cidade vizinha, porém afastada da circulação comercial e turística. Instalamos-nos e por horas não trocamos uma sequer palavra sobre o acontecido, ou o que poderia vir a acontecer. Nossos lábios úmidos tocaram-se e, por um segundo, a conexão entre nossas almas era mais forte. Um beijo serviu como protagonista para nossa noite. Durante a noite, sem conseguir dormir, passei meu tempo entretida em um livro que comprara em uma loja local. Adormeci junto às palavras, junto ao poeta.

Continua na próxima semana...

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

O desafio humanitário e o preconceito nos olhos de quem vê


Pessoal, mais uma redação feita para a escola e que agora posso postar aqui... Espero que gostem!!!


O desafio humanitário e o preconceito nos olhos de quem vê

No decorrer dos anos o ser humano evolui, repensa valores, corrige erros e se depara com limites e dificuldades. Porém, com tanto tempo para melhorar as atitudes, observamos um desafio que cresce a cada dia. Sobre a convivência com as diferenças, sejam elas, sociais, sexuais ou étnicas. Num momento em que a busca pela liberdade e consciência é a prioridade. E como nos disse Augusto Cury, “O sonho da igualdade só cresce no terreno do respeito pelas diferenças”.
            Atualmente, cada um tem sua opção sexual, sua opinião e é influenciado diretamente pelos modismos, emoções e preconceitos. Esse último tem sua ligação aos “rótulos” impostos pela sociedade e é extremamente preocupante. Nesse mundo em que todos falam o que pensam e fortalecem os estereótipos, a genética da diferença é movida pela emoção e despreocupação com o outro, com o diferente e o limitado. Seja deficiente físico ou mental, homo ou heterossexual, rico ou pobre, todos devem ser respeitados.
            Outra observação acerca das desigualdades refere-se ao gênero, aos homens e às mulheres, que têm dificuldades na inserção igualitária no mercado de trabalho. É contraditor ir contra o feminismo numa época em que as raízes do machismo vão sumindo, mas a essência ainda prevalece. E não é convincente culpar a tecnologia ou as redes sociais pela falta de limites. Vemos muitos jovens que têm explosões de sentimentos e nem se preocupam com as pessoas atingidas ou mesmo com as consequências disso. Foi o que cantou a Legião Urbana: “Vem comigo procurar um lugar mais calmo/longe dessa confusão e dessa gente que não se respeita”. 
            A necessidade de cultura e a ausência de convivência são assustadoras.  De quê adianta liderança se não existe respeito? Sem limites e com preconceitos, o desafio de integração entre diferentes torna-se impossível. Em vez de produzirmos vivências, ascendemos a impunidade.
            Habituar-se às tendências exige igualdade. Se não for agora, tentaremos novamente. Se for preciso batalhar, guerrearemos confiantes. O que importa é o respeito às diferenças.  Como poetizou Raul Seixas, “se é de batalhas que se vive a vida, tente outra vez”. Até que o desafio se complete e o “mito” da boa convivência torne-se real.
            Ser normal não é ser igual, é ser diferente e respeitado como tal.
            

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Tempo para amar, amar para o tempo

 ‎"Quando o tempo nos falta, a escrita está ao nosso lado, a música ao nosso alcance e a arte em nossos olhos. E assim é que devemos viver.... E assim é que devemos amar.... E assim é que devemos sonhar..."

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

O espetáculo dos "Miseráveis"


       A arte mais que centenária de Vitor Hugo ressurge no pensamento de todos depois de mais de 12 anos sem ao menos uma reprodução em vídeo. O sucesso estrelado por Liam Neeson, Geoffrey Rush, Uma Thurman e Claire Danes em 1998 foi o último filme gravado antes de 2012. Na literatura de Vitor Hugo, a obra foi escrita em 5 volumes, cada qual explicando a relação entre os personagens e os conflitos desde a Guerra de Waterloo, explorando os paradigmas da Revolução Francesa no século XIX. Personagens como Jean Valjean, Fantine, Cosette e Javert tornam a trama espetacular e de valor intrigante fielmente agregado. Com tamanha fama imortalizada, acertar em cheio é dirigir um filme baseado nas obras de Vitor Hugo. E foi o que Tom Hooper fez. 
Para quem não se lembra, Tom Hooper foi o diretor do premiado O Discurso do Rei. Aquele filme em que o rei Jorge VI, representado por Colin Firth, tem dificuldades com seu discurso em meio à multidão e insegurança esta é vencida ao frequentar os encontros com seu fonoaudiólogo para reverter a situação de sua gagueira. Foi um filme maravilhoso que empresta este patamar para a ilustre filmagem de Os Miseráveis no tom de musical.
Seria difícil dirigir um filme como este sem ter elementos “surpresa”. E foi justamente o que vimos. A surpresa e inteligência ao gravar um filme unindo a essência do livro aos milhares de musicais já representados com a mesma história. O musical gravado cuja estreia, no Brasil, foi dia 1o de Fevereiro deste ano, causou impacto junto à gama de filmes cogitados para ganhar o Oscar de Melhor Filme. Entre eles temos: As Aventuras de Pi (o qual reservamos outro post), Lincoln (dirigido pelo ilustre Steven Spielberg), Indomável Sonhadora (com a atriz principal de 9 anos, Quvenzhané Wallis), A Hora Mais Escura (da diretora premiada com Guerra ao Terror), O Lado Bom da Vida, Argo (vendecor do Globo de Ouro de melhor filme de drama), Amor (com a atriz mais velha a ser indicada para o Oscar), Django Livre (deixando a marca Tarantino entre os concorrentes) e Os Miseráveis (ganhador de consideráveis 3 prêmios no Globo de Ouro. Melhor filme de comédia ou musical, melhor ator de comédia e musical e melhor atriz coadjuvante de comédia ou musical).
A originalidade de Os Miseráveis foi vista inicialmente no elenco, onde estão inseridos os mais ilustres atores. Dentre eles: Hugh Jackman, Russell Crowe, Anne Hathaway, Amanda Seyfried, Helena Bonham Carter, Sacha Baron Cohen, Eddie Redmayne e Samantha Barks.            
     Outro fator foi visto logo no início do filme, onde Jean Valjean (Hugh Jackman) puxa a embarcação junto aos outros prisioneiros. Para isto, o ator ficou 36 horas sem ingerir água. E não pelo falo de ganhar mais dinheiro e sim, por perfeccionismo pleno ao querer representar da melhor maneira possível o personagem e deixar isto muito bem visível a nós. Assim, ficou quase irreconhecível na cena. Posteriormente, conhecemos uma personagem, Fantine, a mulher que, ao perder o emprego, foi  “obrigada” a vender o cabelo, os dentes e o corpo para enviar a pequena quantia ganha ao casal que cuidava de sua filha, Cosette. Em seu papel, Anne Hathaway mostra um show de talento e representação ao cortar, verdadeiramente, os lindos cabelos. A cena que se seguiu foi ainda mais emocionante. A câmera ficou focada por quase 10 minutos (acho que é isso) na atriz que interpretou lindamente a tristeza de Fantine enquanto morria. Em meio ao choro, ela cantou da melhor maneira possível a música “I Dreamed A Dream” sem deixar o público cansado de ver sua representação mais que fiel. O olhar, a emoção transparecendo foi capaz de deixar o público ainda mais emocionado. Então, Fantine morre e deixa imensa saudade. A música interpretada recentemente por Susan Boyle mostrou de forma singular a tristeza e emoção da mãe que nunca viu a filha e morre. A mulher que é jovem, que sonhou e amou, que viveu um inferno. “Now life has killed the dream I dreamed” (Agora a vida matou o sonho que sonhei) foi a frase que encerrou o show apresentado pela atriz.
Depois de tamanha satisfação ao presenciar tamanho espetáculo, o público poderia esperar o abismo do musical. Mas da maneira contrária, observamos a condução da trama pelo confronto entre Jean Valjean e Javert. Este último sendo o personagem representado por um ator com impecável afinação vocal. Com seu tom grave, mostra como atuar lindamente em um musical.
Podemos destacar outros personagens como Cosette, quando cresce, e Marius. Ambos contracenaram também com Eponine e interpretaram muito bem diversos diálogos cantados e músicas. Destaque para um dos últimos “solos”, onde Marius sofre sozinho ao terminar a guerra e cantar chorando muito bem.
Já achando maravilhoso, o público pode observar a atuação cômica de doi personagens: Monsieur e Madame Thénardier, interpretados por Sacha Baron Cohen e Helena Bonham Carter, famosa pela atuação na série Harry Potter e companheira fiel de Johnny Depp em diversos “longas”. A interpretação cômica deles e a rapidez nas cenas impressionou o telespectador.
O último destaque vai para as crianças que cantaram e interpretaram maravilhosamente bem o filme. São elas Cosette e Gavroche. Este último tem interpretação impecável também ao ser retratada sua morte. Com sua imagem centrada na tela, leva dois tiros no peito assistidos integralmente pelo público. Desde o disparo até a queda do garoto e o sangue, a cena fica totalmente focada nele, sem chances para efeitos especiais ou mesmo ajustes de cena. Simplesmente único.
Os Miseráveis é um filme completo para ganhar a estatueta, já que nesta, está concorrendo diretamente com os outros filmes (Dramas e musical juntos), inclusive com Argo, portanto é difícil imaginar o privilegiado do Oscar 2013. Com 100% musical, ou seja, todas as falas cantadas, choveram críticas ao filme pelo cansaço de duas horas e meia. O que, a meu ver, não cansou nada, pois da forma como o telespectador se envolve na trama e nas canções fica impossível se distrair. Somente para os que não gostam do gênero: musical isso é verdade. Mas aí vai de cada um decidir o filme que gosta e vai assistir. E sem comparações foi a ideia de cantar ao vivo durante as gravações. Isto proporcionou vida aos personagens e a possibilidade de cenas centradas na expressão e na face do ator/personagem.
Agora só nos resta ficar atento ao resultado e assistir de camarote ao Oscar 2013, dia 24 de fevereiro. Além de assistir no cinema aos outros concorrentes.



   Abaixo o trailer do filme:




Abaixo a Impecável canção "I Dreamed A Dream" na voz de Anne Hathaway:





    Interpretação de "On My Own" por  Samantha Barks aqui, do garoto Gavroche aqui e de Cosette, Marius e Eponine aqui.




   Imagem de Fantine, deste link.

   Espero que tenham gostado do post e acompanhem outros dos filmes indicados ao Oscar...

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Nice e a vida - Capítulo III - Parte quatro


Senti-me muito estranha ao acordar. Estava em outro lugar. Não sabia onde. Mas fui surpreendida quando ele entrou no quarto segurando uma rosa e beijando-me para que acordasse. Fui presenteada. Acabava de se passar o fim da tarde e iniciava-se a noite. Enquanto meu amado poeta entregava-me a flor, percebi que estava no quarto de sua casa. De lá, voltamos à sala e debatemos sobre a vida, nossas vidas, o que acontecera nesses anos. Andei até o banheiro, preparando-me para um banho e ele, carinhosamente, foi preparar-nos um jantar.
Voltei para a sala e observei as velas em cima da mesa, a essência de primavera e seu corpo, sentado a minha espera. Aproximei-me da cadeira onde sentei e, junto a ele, comi. Era um delicioso filé com batatas e outros legumes junto a um molho de cogumelos que sempre revelei gostar. Ao trocar olhares, percebemos o quão difícil foi estar longe. Por um momento pensei que nunca mais teríamos problemas, que sempre ficaríamos juntos. Mas, como nos atuais contos de “fada”, a existência do “felizes para sempre” foi questionada e reafirmada negativamente. Não estávamos prontos para ficar juntos mais uma vez. Isto que ele me disse. E completou: “precisamos de um tempo parar refletir sobre os caminhos tomados por nossa história, devemo-nos amar cada vez mais. Só que a situação está difícil para mim. Estou sendo pressionado por todos, por tudo. Tenho medo de que alguma coisa aconteça a você caso fiquemos juntos. O Doutor C e os outros me perseguirão. O horror atrelado à raiva me consome.” A conversa terminou, achei estranha sua posição diante a situação, mas estava demasiada cansada para questionar. Ouvimos algumas músicas que relembravam os velhos tempos, de escola, de criança, de juventude. Então o sono voltou e dormimos em sua cama.

Continua na próxima semana...