...
Imaginei ser outro dia
quando acordei e vi uma garrafa de água jogada ao meu lado. Estranha essa
preocupação comigo, mas de alguma maneira queriam-me viva. Pelo que parecia, a
garrafa estava lacrada e mesmo se não estivesse eu teria que tomar, estava
morrendo de sede. Tomei e nada me aconteceu. Estava quente ali e senti um vento
mais fresco quando abriram repentinamente a porta pela qual passaram ontem. O
mesmo homem que sentara na cadeira puxou-me para que eu levantasse e fosse com
ele. Era impossível revidar e cedi facilmente. Saímos da sala. Percorremos um
enorme e escuro corredor cujas outras portas estavam fechadas e não consegui
reparar em nada. Somente no chão sujo, nas muitas lâmpadas queimadas e no
silêncio recíproco. Fui levada para o lado de fora de algo que parecia uma
fábrica. Sem pintura alguma, deparei-me com tijolos envelhecidos, paredes
cheias de musgo e sofrendo com as chuvas. O lugar era bem antigo. Cercado de
árvores e de uma imensidão de modo que não era possível ver muros ou divisões
no horizonte. Tudo isso foi confirmado quando fui novamente jogado em um carro
com as mãos e pés amarrados. O caminho até os portões, do que agora já parecia
uma fazenda, foi longo e só percebi quando pararam para abrir passagem e pude
me levantar um pouco para vê-lo. Mas, quando perceberam o que chamaram de
“atrevimento”, tive um monitoramento especial de um cara ao lado do motorista. Eu
não conseguia perceber o tempo passar, só sei que demorou para chegarmos a um
lugar repleto de árvores de todos os tipos. Quase não via o sol em meio aos
galhos e folhas de todas as larguras e cores. Como nas fotos encontradas na
mesa onde os homens vasculhavam na noite passada.
Fui retirada e recebida com
as mais ásperas palavras, quando ele me disse:
– Saia logo desse carro e trate de ficar quieta. Qualquer barulho e você
não sairá viva dessa.
Fiquei amedrontada no
momento, mas não foi o que me impediu de mandar-lhe calar a boca e dizer que
meu poeta amado viria me salvar das suas mãos.
– Seus canalhas! – eu disse rispidamente.
Ele retribuiu-me com um
forte tapa e com meu rosto avermelhado, caí.
– Sua besta, não sabe com quem está se metendo. Só não lhe mato agora
porque vou receber uma boa quantia entregando-a viva. Espero que cale essa
maldita... – Foi o que ouvi dele, antes de desmaiar.
Com o passar do tempo eu
sentia o frio aderir à minha pele, congelando-me dos pés à alma. Acordando aos
poucos percebi que estava em uma casa, ou algo do tipo, só que de madeira. Em
um quarto cuja porta estava aberta. Estranhei. Onde estariam a segurança e os
homens? Então me levantei, andei pela casa. Vi como era bem mais cheirosa e
arrumada do que a fábrica onde ficara. Porém, com as janelas trancadas. E foi
olhando através de uma delas que percebi os guardas armados ao redor do lugar.
Observando de janela em janela, contei uns cinco homens.
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