IV. Levada para longe
Acordei. Já não estava mais
no carro onde perdi a consciência. O ambiente escuro deixava-me com medo. Sem
janelas visíveis, pensei como era difícil respirar em tal lugar e por que me
trouxeram aqui. Será que queriam matar-me? Era quase impossível responder, eu
acabara de acordar e não vira sequer sinal de vida. O calor estava
insuportável, assim como o aroma podre de morte, de sangue. Devia ser o local
onde matavam muitas pessoas, pois o cheiro era horrível. Eu não conseguia me
mexer, não tinha forças nem para levantar. Comecei a observar o lugar a minha
volta, visível apenas pela faixa de luz que passava através da fresta embaixo
de uma porta. Tinham caixas e mais caixas amontoadas por todos os lados, muita
poeira e lixo ao redor. Observei perto de mim uma mancha enorme de sangue, onde
alguém talvez tentou fugir e foi pego em flagrante. E morto em seguida. Vi uma
mesa ao canto com uma cadeira, dentro deste cômodo pouco maior que um galpão ou
uma garagem. O teto de madeira rangia como se fosse mais antigo que as próprias
paredes. O silêncio ricocheteou em minha mente, de forma que pensei estar
sozinha. Não por muito tempo.
Ouvi o barulho de passos
cada vez mais altos. Então a porta foi aberta. Não se importaram muito com
minha presença. Dois homens se posicionaram perto da mesa e outro se sentou na
cadeira. Mexiam em papéis, como se procurassem algo de significante
importância. Só então repararam que eu estava ali, olhando-os. O mais próximo
que estava em pé foi se aproximando. Loiro como um girassol, puxou-me pelo
braço. Fui arremessada para o lado oposto do galpão e senti a dor de ter o
corpo jogado em cima de caixas de madeira. Do corte em meu braço escorria um
líquido que lembrava minha origem, meu coração partido. Era o meu sangue. E não
deixei de imaginar quantas outras pessoas não tiveram seu corpo machucado
naquele lugar. Difícil imaginar.
Olhei novamente para os
homens, tomando cuidado para que não observassem minha atitude. Acabavam de
mexer na bagunça em cima da mesa, retirando fotos, jornais, textos. Folhas e
mais folhas com alguma serventia. Saíram. Esperei até o momento em que fecharam
a porta para me levantar e ir em direção à desordem que deixaram. Via em meio
aos papéis, fotos do poeta, textos dele rasgados, e um local estranho em outras
imagens. Esse, cheio de árvores e repleto de escuridão. Dei mais uma olhada por
cima, para ver se encontrava algo de delator. Mas não. Não havia sequer pista
de onde eu estaria, ou mesmo da localização do meu poeta. Voltei para meu
canto. Deveria ser tarde, o que eu não previ pela falta de luminosidade, pois a
fresta da porta certamente não deixava passar a luz do dia. Eu sabia devido ao cansaço que consumia-me. Deitei e
tentei dormir com tamanha preocupação.
Continua...
Espero que estejam gostando! Daqui em diante só partes inéditas no blog!
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