quinta-feira, 10 de março de 2011

O menino do olhar cortante

"Olhando pra mim, olho pra você"

Fechei os olhos. Abaixei a cabeça. E comecei a chorar. Um ato um tanto quanto covarde, menos nesta situação. Era aquele olhar. Olhar cortante. Fixamente olhando para mim. O que pensar? O que sentir? Tristeza, aperto, insegurança. Medo. Era perigoso, receber olhadas alheias. Uma cena tétrica. Irreparável. Era aquele olhar. Daquele menino. Misterioso e capaz. Certo do que estava fazendo e pensando. E eu inseguro. Precisando de um apoio, de uma referência, de uma arma. Um argumento era a melhor delas. Ou um pedido de socorro. Estava numa situação crítica. Onde a razão estava longe de ser seguida. Parei de chorar. Pensei: quem me ajudará? Ninguém. Eram todos cúmplices daquele silêncio do olhar misterioso. Cortante. Todos prestes a me desmascarar. No teatro. Em casa. Na cena. Tudo seria descoberto. A colcha seria erguida. O sangue falso brotaria. E a peça estaria terminada. O menino virou-se. E abraçou seu pai, que por um tempo não vira. Saudade. Explícita num olhar cortante, de saudade. De amor. Fecham-se as cortinas. A peça acaba.

Link!

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Esboços