Andando um pouco mais, passei pela biblioteca
que durante muito tempo frequentei. Antes de conhecê-lo. Lá, os livros eram
como as âncoras dos navios, impedindo-me de sair sem terminá-los, de sair ao
caos e afogar-me nas grotescas ondas de um mar profundo. E foi o que fiz. Afoguei-me.
Mas, nos livros. O cheiro da página virada dava-me fome, fome de lê-lo e
relê-lo e relê-lo. Lá, cada estrofe era uma vida que se renovava, uma parte do
livro que se acoplava em meu mundo, junto às ideias mirabolantes de ser uma
leitora, escritora e amante fiel dos livros. Corri.
Por um instante pensei ter feito a coisa
certa, mas de certo só o errado acerto. A chuva continuava e meu cabelo, já
ensopado, não tinha mais forma. Continuei caminhando para então, parar e
lembrar-me de mais uma das entranhas de minha vida, minha vida cruel.
Lembrei-me dos tempos em que estudei naquela escola. Das brincadeiras escassas
de maldade, cheias de prazer, dos amigos, professores, dos cantos e recantos,
das vidas lá vividas e de cada peça do meu quebra-cabeça vital lá reconstruída.
O portão, lembrava-me dos sonhos que lá tive e que lá ficaram guardados,
vigiados pelo cadeado que o trancava.
Mas me deixem ir. Lembranças fazem-me
escorrer lágrimas. E continuei a correr. Correndo na chuva. Se é que choveu,
pois corri boa parte do percurso desperdiçando lágrimas. Inesgotável. A cada
passo, as lembranças dos nossos momentos juntos não me saíam da cabeça. Eu me
arrependia mais, e mais e mais de ter corrido quando passava em frente a sua
casa. Mas como falei, foi minha já esgotada coragem, que sumiu sem deixar
rastros. Continuei andando até encontrar uns amigos e assim, me recompor.
Continua na próxima semana...
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