quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Nice e a vida - Capítulo I - Parte dois


Andando um pouco mais, passei pela biblioteca que durante muito tempo frequentei. Antes de conhecê-lo. Lá, os livros eram como as âncoras dos navios, impedindo-me de sair sem terminá-los, de sair ao caos e afogar-me nas grotescas ondas de um mar profundo. E foi o que fiz. Afoguei-me. Mas, nos livros. O cheiro da página virada dava-me fome, fome de lê-lo e relê-lo e relê-lo. Lá, cada estrofe era uma vida que se renovava, uma parte do livro que se acoplava em meu mundo, junto às ideias mirabolantes de ser uma leitora, escritora e amante fiel dos livros. Corri.
Por um instante pensei ter feito a coisa certa, mas de certo só o errado acerto. A chuva continuava e meu cabelo, já ensopado, não tinha mais forma. Continuei caminhando para então, parar e lembrar-me de mais uma das entranhas de minha vida, minha vida cruel. Lembrei-me dos tempos em que estudei naquela escola. Das brincadeiras escassas de maldade, cheias de prazer, dos amigos, professores, dos cantos e recantos, das vidas lá vividas e de cada peça do meu quebra-cabeça vital lá reconstruída. O portão, lembrava-me dos sonhos que lá tive e que lá ficaram guardados, vigiados pelo cadeado que o trancava.
Mas me deixem ir. Lembranças fazem-me escorrer lágrimas. E continuei a correr. Correndo na chuva. Se é que choveu, pois corri boa parte do percurso desperdiçando lágrimas. Inesgotável. A cada passo, as lembranças dos nossos momentos juntos não me saíam da cabeça. Eu me arrependia mais, e mais e mais de ter corrido quando passava em frente a sua casa. Mas como falei, foi minha já esgotada coragem, que sumiu sem deixar rastros. Continuei andando até encontrar uns amigos e assim, me recompor.


Continua na próxima semana...


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Esboços