sexta-feira, 5 de abril de 2013

Que seja o ópio, mas para o bem


Utilizando o gerúndio do verbo ler podemos formular frases como: Estou lendo um livro. Mas não são muitos os que as fazem, pois mesmo no século XXI a leitura se apresenta distante, assim como o ato de escrever. Inicialmente com caráter pictográfico, a escrita se mostrou em crescente modificação. E junto a ela, a interpretação das informações caracterizou-se um benefício ao longo dos anos. Bastou uni-la ao poder da leitura para o surgimento dos livros e das mais diversas transformações.
Durante o crescimento e a elaboração dos valores, várias pessoas tornam-se seres críticos, pensantes e com opinião própria. Na maioria são grandes as influências de narrativas nas quais embarcamos desde pequenos. Esse mundo ficcional, para Platão, afastava as pessoas da verdade, porém, para Aristóteles, apenas tornava mais compreensiva a realidade. Tangenciando as contradições podemos afirmar o quão imortal tornam-se as coisas ou nós mesmos ao término de uma dessas histórias.
Com o tempo, o acesso aos diferentes textos amplificou-se de maneira extraordinária. Em toda cidade é possível encontrar ao menos uma biblioteca. E no cotidiano, seu acervo mostrou como podemos ampliar o vocabulário e os conhecimentos.
Sim, “leitura, antes de mais nada, é estímulo” como disse Ruth Rocha. É exemplo para amplificar os cidadãos intelectualizados que “engrandecem a alma” por causa dela, como divulgou Voltaire. Tornar-se um leitor crítico transforma qualquer causa em consequência, ideia em realização, basta o empenho de cada um.
Filosoficamente a dedicação se dá pelo questionamento. E pela literatura, como retificou Clarice Lispector, “Enquanto tiver perguntas e não houver respostas, continue a escrever”. É pelo exercício desta habilidade que nos desenvolvemos da melhor maneira.
Assim, é visível um problema: a quantidade de pessoas que nem se interessa ou se preocupa com a escrita ou leitura. É gente sem “fome” de conhecimento por intermédio delas, que, para Carlos Drummond de Andrade, “são uma fonte inesgotável de prazer, mas por incrível que pareça, a quase totalidade, não sente esta sede”. Não se deve radicalizar, somente permitir às crianças de hoje a leitura que muitas não tiveram antigamente. O importante é ser crítico e para essa liberdade, convém uma boa dose de escritas para se ler.




terça-feira, 2 de abril de 2013

Nice e a vida - Capítulo III - Parte cinco


    Acordei, dessa vez antes que ele. Tomei um banho, preparei um café e fiquei a sua espera. Como ele não acordava, comecei a observar sua casa, seus móveis, suas coisas. Foi aí que encontrei um bilhete, próximo a uns cadernos em uma mesa de canto. Mais especificamente um recado. Intitulado como: “para um tolo”, era de autoria do Doutor C. Este avisava-lhe do tempo que tinha para se entregar, caso contrário eles já haviam descoberto o local onde mora, pois o tinham visitado na noite passada. Suspirei. Meu espanto foi enorme. O nervosismo acabara de iniciar e percebi o perigo que estávamos correndo. Observando a data, descobri que essa “noite passada” foi ontem, depois que dormimos. Lágrimas correram por minha face e tive medo de estar sendo conivente para uma situação como em Hamlet, onde a morte foi a protagonista e, ao mesmo tempo, foi o clímax da situação. Bastou o poeta acordar para descobrir por mim, o que acabara de encontrar.
   Não conseguimos ao menos encostar nos lábios a comida. O ódio tornava-se visível.        Pegamos algumas coisas, entre roupas e documentos importantes para então, sairmos daquela casa sem o intuito de voltar. Os passos largos e apressados demonstravam a rigidez de nosso amor. Conseguimos, inicialmente, um hotel em uma cidade vizinha, porém afastada da circulação comercial e turística. Instalamos-nos e por horas não trocamos uma sequer palavra sobre o acontecido, ou o que poderia vir a acontecer. Nossos lábios úmidos tocaram-se e, por um segundo, a conexão entre nossas almas era mais forte. Um beijo serviu como protagonista para nossa noite. Durante a noite, sem conseguir dormir, passei meu tempo entretida em um livro que comprara em uma loja local. Adormeci junto às palavras, junto ao poeta.

Continua na próxima semana...

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

O desafio humanitário e o preconceito nos olhos de quem vê


Pessoal, mais uma redação feita para a escola e que agora posso postar aqui... Espero que gostem!!!


O desafio humanitário e o preconceito nos olhos de quem vê

No decorrer dos anos o ser humano evolui, repensa valores, corrige erros e se depara com limites e dificuldades. Porém, com tanto tempo para melhorar as atitudes, observamos um desafio que cresce a cada dia. Sobre a convivência com as diferenças, sejam elas, sociais, sexuais ou étnicas. Num momento em que a busca pela liberdade e consciência é a prioridade. E como nos disse Augusto Cury, “O sonho da igualdade só cresce no terreno do respeito pelas diferenças”.
            Atualmente, cada um tem sua opção sexual, sua opinião e é influenciado diretamente pelos modismos, emoções e preconceitos. Esse último tem sua ligação aos “rótulos” impostos pela sociedade e é extremamente preocupante. Nesse mundo em que todos falam o que pensam e fortalecem os estereótipos, a genética da diferença é movida pela emoção e despreocupação com o outro, com o diferente e o limitado. Seja deficiente físico ou mental, homo ou heterossexual, rico ou pobre, todos devem ser respeitados.
            Outra observação acerca das desigualdades refere-se ao gênero, aos homens e às mulheres, que têm dificuldades na inserção igualitária no mercado de trabalho. É contraditor ir contra o feminismo numa época em que as raízes do machismo vão sumindo, mas a essência ainda prevalece. E não é convincente culpar a tecnologia ou as redes sociais pela falta de limites. Vemos muitos jovens que têm explosões de sentimentos e nem se preocupam com as pessoas atingidas ou mesmo com as consequências disso. Foi o que cantou a Legião Urbana: “Vem comigo procurar um lugar mais calmo/longe dessa confusão e dessa gente que não se respeita”. 
            A necessidade de cultura e a ausência de convivência são assustadoras.  De quê adianta liderança se não existe respeito? Sem limites e com preconceitos, o desafio de integração entre diferentes torna-se impossível. Em vez de produzirmos vivências, ascendemos a impunidade.
            Habituar-se às tendências exige igualdade. Se não for agora, tentaremos novamente. Se for preciso batalhar, guerrearemos confiantes. O que importa é o respeito às diferenças.  Como poetizou Raul Seixas, “se é de batalhas que se vive a vida, tente outra vez”. Até que o desafio se complete e o “mito” da boa convivência torne-se real.
            Ser normal não é ser igual, é ser diferente e respeitado como tal.
            

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Tempo para amar, amar para o tempo

 ‎"Quando o tempo nos falta, a escrita está ao nosso lado, a música ao nosso alcance e a arte em nossos olhos. E assim é que devemos viver.... E assim é que devemos amar.... E assim é que devemos sonhar..."

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

O espetáculo dos "Miseráveis"


       A arte mais que centenária de Vitor Hugo ressurge no pensamento de todos depois de mais de 12 anos sem ao menos uma reprodução em vídeo. O sucesso estrelado por Liam Neeson, Geoffrey Rush, Uma Thurman e Claire Danes em 1998 foi o último filme gravado antes de 2012. Na literatura de Vitor Hugo, a obra foi escrita em 5 volumes, cada qual explicando a relação entre os personagens e os conflitos desde a Guerra de Waterloo, explorando os paradigmas da Revolução Francesa no século XIX. Personagens como Jean Valjean, Fantine, Cosette e Javert tornam a trama espetacular e de valor intrigante fielmente agregado. Com tamanha fama imortalizada, acertar em cheio é dirigir um filme baseado nas obras de Vitor Hugo. E foi o que Tom Hooper fez. 
Para quem não se lembra, Tom Hooper foi o diretor do premiado O Discurso do Rei. Aquele filme em que o rei Jorge VI, representado por Colin Firth, tem dificuldades com seu discurso em meio à multidão e insegurança esta é vencida ao frequentar os encontros com seu fonoaudiólogo para reverter a situação de sua gagueira. Foi um filme maravilhoso que empresta este patamar para a ilustre filmagem de Os Miseráveis no tom de musical.
Seria difícil dirigir um filme como este sem ter elementos “surpresa”. E foi justamente o que vimos. A surpresa e inteligência ao gravar um filme unindo a essência do livro aos milhares de musicais já representados com a mesma história. O musical gravado cuja estreia, no Brasil, foi dia 1o de Fevereiro deste ano, causou impacto junto à gama de filmes cogitados para ganhar o Oscar de Melhor Filme. Entre eles temos: As Aventuras de Pi (o qual reservamos outro post), Lincoln (dirigido pelo ilustre Steven Spielberg), Indomável Sonhadora (com a atriz principal de 9 anos, Quvenzhané Wallis), A Hora Mais Escura (da diretora premiada com Guerra ao Terror), O Lado Bom da Vida, Argo (vendecor do Globo de Ouro de melhor filme de drama), Amor (com a atriz mais velha a ser indicada para o Oscar), Django Livre (deixando a marca Tarantino entre os concorrentes) e Os Miseráveis (ganhador de consideráveis 3 prêmios no Globo de Ouro. Melhor filme de comédia ou musical, melhor ator de comédia e musical e melhor atriz coadjuvante de comédia ou musical).
A originalidade de Os Miseráveis foi vista inicialmente no elenco, onde estão inseridos os mais ilustres atores. Dentre eles: Hugh Jackman, Russell Crowe, Anne Hathaway, Amanda Seyfried, Helena Bonham Carter, Sacha Baron Cohen, Eddie Redmayne e Samantha Barks.            
     Outro fator foi visto logo no início do filme, onde Jean Valjean (Hugh Jackman) puxa a embarcação junto aos outros prisioneiros. Para isto, o ator ficou 36 horas sem ingerir água. E não pelo falo de ganhar mais dinheiro e sim, por perfeccionismo pleno ao querer representar da melhor maneira possível o personagem e deixar isto muito bem visível a nós. Assim, ficou quase irreconhecível na cena. Posteriormente, conhecemos uma personagem, Fantine, a mulher que, ao perder o emprego, foi  “obrigada” a vender o cabelo, os dentes e o corpo para enviar a pequena quantia ganha ao casal que cuidava de sua filha, Cosette. Em seu papel, Anne Hathaway mostra um show de talento e representação ao cortar, verdadeiramente, os lindos cabelos. A cena que se seguiu foi ainda mais emocionante. A câmera ficou focada por quase 10 minutos (acho que é isso) na atriz que interpretou lindamente a tristeza de Fantine enquanto morria. Em meio ao choro, ela cantou da melhor maneira possível a música “I Dreamed A Dream” sem deixar o público cansado de ver sua representação mais que fiel. O olhar, a emoção transparecendo foi capaz de deixar o público ainda mais emocionado. Então, Fantine morre e deixa imensa saudade. A música interpretada recentemente por Susan Boyle mostrou de forma singular a tristeza e emoção da mãe que nunca viu a filha e morre. A mulher que é jovem, que sonhou e amou, que viveu um inferno. “Now life has killed the dream I dreamed” (Agora a vida matou o sonho que sonhei) foi a frase que encerrou o show apresentado pela atriz.
Depois de tamanha satisfação ao presenciar tamanho espetáculo, o público poderia esperar o abismo do musical. Mas da maneira contrária, observamos a condução da trama pelo confronto entre Jean Valjean e Javert. Este último sendo o personagem representado por um ator com impecável afinação vocal. Com seu tom grave, mostra como atuar lindamente em um musical.
Podemos destacar outros personagens como Cosette, quando cresce, e Marius. Ambos contracenaram também com Eponine e interpretaram muito bem diversos diálogos cantados e músicas. Destaque para um dos últimos “solos”, onde Marius sofre sozinho ao terminar a guerra e cantar chorando muito bem.
Já achando maravilhoso, o público pode observar a atuação cômica de doi personagens: Monsieur e Madame Thénardier, interpretados por Sacha Baron Cohen e Helena Bonham Carter, famosa pela atuação na série Harry Potter e companheira fiel de Johnny Depp em diversos “longas”. A interpretação cômica deles e a rapidez nas cenas impressionou o telespectador.
O último destaque vai para as crianças que cantaram e interpretaram maravilhosamente bem o filme. São elas Cosette e Gavroche. Este último tem interpretação impecável também ao ser retratada sua morte. Com sua imagem centrada na tela, leva dois tiros no peito assistidos integralmente pelo público. Desde o disparo até a queda do garoto e o sangue, a cena fica totalmente focada nele, sem chances para efeitos especiais ou mesmo ajustes de cena. Simplesmente único.
Os Miseráveis é um filme completo para ganhar a estatueta, já que nesta, está concorrendo diretamente com os outros filmes (Dramas e musical juntos), inclusive com Argo, portanto é difícil imaginar o privilegiado do Oscar 2013. Com 100% musical, ou seja, todas as falas cantadas, choveram críticas ao filme pelo cansaço de duas horas e meia. O que, a meu ver, não cansou nada, pois da forma como o telespectador se envolve na trama e nas canções fica impossível se distrair. Somente para os que não gostam do gênero: musical isso é verdade. Mas aí vai de cada um decidir o filme que gosta e vai assistir. E sem comparações foi a ideia de cantar ao vivo durante as gravações. Isto proporcionou vida aos personagens e a possibilidade de cenas centradas na expressão e na face do ator/personagem.
Agora só nos resta ficar atento ao resultado e assistir de camarote ao Oscar 2013, dia 24 de fevereiro. Além de assistir no cinema aos outros concorrentes.



   Abaixo o trailer do filme:




Abaixo a Impecável canção "I Dreamed A Dream" na voz de Anne Hathaway:





    Interpretação de "On My Own" por  Samantha Barks aqui, do garoto Gavroche aqui e de Cosette, Marius e Eponine aqui.




   Imagem de Fantine, deste link.

   Espero que tenham gostado do post e acompanhem outros dos filmes indicados ao Oscar...

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Nice e a vida - Capítulo III - Parte quatro


Senti-me muito estranha ao acordar. Estava em outro lugar. Não sabia onde. Mas fui surpreendida quando ele entrou no quarto segurando uma rosa e beijando-me para que acordasse. Fui presenteada. Acabava de se passar o fim da tarde e iniciava-se a noite. Enquanto meu amado poeta entregava-me a flor, percebi que estava no quarto de sua casa. De lá, voltamos à sala e debatemos sobre a vida, nossas vidas, o que acontecera nesses anos. Andei até o banheiro, preparando-me para um banho e ele, carinhosamente, foi preparar-nos um jantar.
Voltei para a sala e observei as velas em cima da mesa, a essência de primavera e seu corpo, sentado a minha espera. Aproximei-me da cadeira onde sentei e, junto a ele, comi. Era um delicioso filé com batatas e outros legumes junto a um molho de cogumelos que sempre revelei gostar. Ao trocar olhares, percebemos o quão difícil foi estar longe. Por um momento pensei que nunca mais teríamos problemas, que sempre ficaríamos juntos. Mas, como nos atuais contos de “fada”, a existência do “felizes para sempre” foi questionada e reafirmada negativamente. Não estávamos prontos para ficar juntos mais uma vez. Isto que ele me disse. E completou: “precisamos de um tempo parar refletir sobre os caminhos tomados por nossa história, devemo-nos amar cada vez mais. Só que a situação está difícil para mim. Estou sendo pressionado por todos, por tudo. Tenho medo de que alguma coisa aconteça a você caso fiquemos juntos. O Doutor C e os outros me perseguirão. O horror atrelado à raiva me consome.” A conversa terminou, achei estranha sua posição diante a situação, mas estava demasiada cansada para questionar. Ouvimos algumas músicas que relembravam os velhos tempos, de escola, de criança, de juventude. Então o sono voltou e dormimos em sua cama.

Continua na próxima semana...

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Nice e a vida - Capítulo III - Parte três


Foi estranho ouvi-lo. As palavras saíam de sua boca como farpas a atravessar meu coração. Ele não confiou em mim naquele dia. E isto me soou estranho. Lembro-me muito bem de suas palavras: “...não me siga nem espere nunca mais.” As duas últimas me deixaram pensativa. Como poderia ser fácil esquecê-lo depois de tanta conversa, tantos olhares? Não era possível. Não para mim. Demorei um bom tempo para me recompor e tentar continuar vivendo até encontrá-lo novamente. O que ainda me intrigava era o fato dele manter segredo quanto ao contrato com o Doutor C e o segredo atrelado a sua vida. Eu não conseguia mais ficar imóvel com tal situação. Segurei-o pelo braço e pedi para que olhasse para mim. Ficamos “cara a cara”, fitamo-nos, e reconheci em seu olhar o desespero de muita mentira e segredo fundidos ao fato de termos ficado longe. Larguei-o e fui ao parapeito da janela para conferir se a penumbra de uma manhã chuvosa era responsável pelo que acontecera instantes antes. Ele abraçou-me por trás e fez com que caíssemos no sofá, juntos, imóveis, intactos. Seu perfume servia-me de consolo por tanto tempo perdido. A essência de nossas almas era de uma simplicidade efêmera, porém real e valiosa. Nossos rostos, gélidos e pálidos, se encontraram. Era possível sentir o calor de suas aventuras e do meu amor. Um beijo foi o responsável por selar nosso encontro. Diante da chuva, dormimos naquele fim de manhã. A conversa de outrora já nos tinha cansado demais. Deixamos a preocupação de lado e dormimos.

Continua na próxima semana... 

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Um tempo, uma vida

   A vida passa. E muito rápido por sinal. O tempo não nos é estranho, é passageiro, veloz. Não nos damos conta de como a reciprocidade da vida nos torna tão rápidos. Mas é o tempo ou a vida? "Quem" nos intriga? São ambos. Um pela agilidade, outra pela realidade.
   Abre-se um paradigma onde relembramos momentos: chama-se sonho. E nele passa a vida, o tempo, o sono. Encontramos sentimentos, cruzamos pensamentos. E o amor nisso tudo onde fica? No olhar e sorriso de cada um para com outro. Um lábio n'outro, um beijo morto, um sentimento feliz, a felicidade solta. Não é preciso encontrar o certo para viver o errado. Mas sim, encontrar-se no certo para contradizer no errado.
   As paixões que se podem viver nesta vida, estão muito além de trocar abraços ou alianças, de olhar fixamente ou simplesmente beijar. Os amores são as coisas apaixonantes, e o sorriso é o clichê de se amar. As atitudes são tantas. Segurar a mão do outro não é afeto, é desejo. Só para acontecer, não basta viver, temos que dar vento ao tempo, para que passe mais rápido e encurte as distâncias dos sentimentos. 
    A beleza não existe, é escondida pela alma. A Alma da paixão e da coisa apaixonante. Da menina, do menino. Da amiga, do amigo. Dela, dele. De todos.
    Não basta amar-te, tem que racionalizar o pensamento, mudar as palavras, aguentar críticas, e ultrapassar as barreiras de teu coração. E a metáfora nisso é a vida. E troque os papéis de amar para o verbo julgar. Tão diferentes, tão longes pelo tempo. Para julgar é preciso amar. Mas para amar basta um sorriso ou olhar. Uma vida. A sua vida. A sua cara. Cara de gosto. A amizade. O desapaixonar perto do apaixonar. O racional par do irracional. A verdade da mentira. O caos perto da calmaria. Eu e tu. Ela e ele. Isto e aquilo. Nós.
   E no plural conjuga-se uma indecisão. Ir ou não ir. Sem dúvida, só certeza. E um pedido. Para que perceba o olhar, o amar... (O valor das reticências como pausa. Afago de mágoas, de alegria e desespero. De vontade.) O suspiro. A doçura. Tu. 

    E ver nessa escrita um passo a mais para aproveitar o resto da vida. Porque ela é feita pra isso. E logo é o ano de mudanças. Lembramo-nos assim.

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Nice e a vida - Capítulo III - Parte dois


Achei muito estranho o fato dele ter dito que eu sabia o motivo de sua “fuga”. A única coisa de que me lembrava era de um tal Doutor C, com que fechara um contrato de escrita. Mas nem sei o que é, nem como é, este contrato, ele não me disse nem explicou.
Pedi uma melhor explicação e ele respondeu: “Chega um certo momento em que é preciso entregar as cartas e explicá-las. Este momento é agora. Aquele contrato de escrita de que lhe falei foi um acordo, com o Doutor C. Ele descobriu uma coisa, sobre minhas escritas, o modo como escrevo e fortaleço as palavras. Mas isto, não posso lhe explicar agora. Com este contrato, o doutor me obrigaria a servi-lo, a obedecer seus comandos de escrita, caso contrário eu seria desmascarado. Eu estava vulnerável e só assinei o contrato para ganhar um tempo para fugir. Então lhe encontrei naquele corredor, no momento de minha fuga. Era preciso fugir do Doutor C e dos seu aliados que a muito tempo perseguiram-me. Quando lhe disse que achava estar sendo perseguido, eu tinha certeza da perseguição, mas não poderia deixar isso claro a você. E fugi”.

Continua na próxima semana...

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Literatura: epílogo II


"A literatura é a maneira mais agradável de ignorar a vida" Fernando Pessoa

"Literatura é a arte capaz de reunir imagens, pensamentos e reflexões colocados em meio às mais específicas frases. É a capacidade de dizer ao mundo os poemas de minh'alma"

"Não basta viver, temos que 'literaturar'"

Gui*

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Nice e a vida - Capítulo III - Parte um


III. Conversa pouco menos que dolorosa

Poucos segundos após minha chegada em sua casa, voltei a ficar imóvel. A chuva que escorria pelas sinuosidades de meu corpo fazia-me tremer de frio. Eu continuava sem coragem de bater na porta, por mais sutil que fosse. Gradualmente a chuva foi aumentando, assim como os calafrios pelo corpo. Minha imobilidade já durava alguns minutos quando ele percebeu que havia alguém em frente à porta. Imaginei que minha sombra pudesse tê-lo assustado, mas logo concluí que não. Ele jamais se assustaria com essas coisas. Então abriu a porta e eu entrei, muda, molhada e espantada com a situação que acabara de encontrar.
Sem uma única pergunta, fui conduzida até a sala, ao lado esquerdo de um sofá, iluminada por resquícios de luz provenientes de um abajur. Na penumbra, só era possível observar a silhueta de seu corpo posicionado ao lado do meu, mesmo que ainda estivesse um pouco afastado. Foi preciso mais alguns minutos para se iniciar o diálogo.
Percebi sua hesitação em me perguntar como o encontrara. E para iniciar a própria conversa. Mas, aos poucos, a troca de palavras tornou-se fluente. Quis saber o porquê de ele ter sumido tão repentinamente. O que me foi respondido ricocheteou em minha mente. Disse-me: “Era preciso fugir. Naquele momento me senti perseguido. Você sabia muito bem o motivo para me encontrar ali, o motivo pelo qual eu gosto tanto da escrita e, naquele dia, não me atrevera a escrever uma só palavra. Você sabia de tudo. Tinha conhecimento do contrato de escrita que fiz. Eu não tinha alternativa, a não ser fugir deles e me afastar de você. Para protegê-la e nada mais.”.

Continua na próxima semana... 

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Nice e a vida - Capítulo II - Parte seis


Eu via o medo em seus olhos. Mas não tive o que fazer quando ele me fez prometer que não seguiria seu caminho e nem iria procurá-lo, nunca mais.
Foi intrigante e misterioso. Ele me deixou só. Num corredor escuro e sem saber o que fazer. Sem rumo. Ele tornava-se, a cada instante, mais inatingível. Era um poeta, mas um poeta inatingível.
E então fui à sua procura, como já lhes contei. E o encontrei em sua casa diante a rala chuva que escorria em minha face, desviando em meus lábios e inundando meu corpo. Finalmente após dois anos pude reencontrá-lo. Mas nem tudo estava como pensei.
O mundo havia mudado, assim como ele, suas atitudes, seu endereço (que na cadeira da biblioteca me confessara e me custou descobrir o novo, mas o havia feito) sua vida, a minha vida e o seu amor. Era difícil e doloroso vê-lo assim. Mas já era hora de conhecer as “cartas” deste “baralho”. E como num jogo de xadrez, dei-lhe o “xeque-mate”.

Continua na próxima semana...

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Nice e a vida - Capítulo II - Parte cinco


As semanas corriam e já se passara mais de três meses. Percebi uma repentina mudança em seu comportamento. O medo em seu olhar era cada vez mais presente. Seus poemas tornavam-se menos “entrelaçantes”. Seu sorriso desatava a cada pessoa que passava despercebida, o que nunca antes acontecera. As conversas ficaram mais rápidas e sucintas. O amor era derretido e a cada instante uma nova gota desperdiçada se perdia no mar de lágrimas provenientes de mim. Todas as noites mal dormidas foram transformadas em noites de tormenta e choro, muita lágrima derramada. Muita falta de pensamento. Eu não sabia o que acontecera. A situação, a cada momento, ficava mais fora de alcance.
Foi quando, em um dia, antes de chegar à biblioteca, nosso local de encontro fora substituído por um corredor. Aquele corredor. Onde ele singelamente me disse que precisava retomar as escritas, que eu sabia por que ele estava ali. Mas eu não sabia. Não tinha a mínima ideia. E ainda afirmou que achavam que o estavam perseguindo e procurando, e não devia deixar as escritas e reflexões em perigo.

Continua na próxima semana... 

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Nice e a vida - Capítulo II - Parte quatro


Por mais de um mês ficamos a nos encontrar no mesmo local. Para conversar. Somente. E ouvir de sua adocicada voz, resquícios dos poemas mais atingíveis que já ouvi. Eram para mim. Todos, sem exceção. Durante muito tempo, muitos dias e semanas. Minha vida realmente teria mudado. Eu estava apaixonada. Por ele. Pelo poeta. E cada vez mais feliz por isso.
Havia dias em que ele me levava rosas. Das mais perfumadas e acaloradas que eu já tinha visto. O perfume conseguia ser tão presente quanto o dele. O carinho em suas atitudes, em sua voz, sensibilizava-me. Clareava meus caminhos. Perfumava minha vida. As longas conversas estavam longe, mas muito longe, da monotonia de outros tempos. Eu era uma nova moça, uma moça-mulher. E como, cada vez mais, ele me encantava eu não sabia. Era amor na certa. Ou dó de um pobre poeta desalmado. Cujos poemas não serviriam para nada além de alimentar-me as lágrimas suavizadas pelas olheiras das noites mal dormidas. As noites em que pensei nele e em sua poesia.
O mundo mudara para mim. De uns tempos pra cá a vida era a semelhança de uma certeza que eu ainda deveria confirmar. E todos os acontecimentos serviam de afirmação para cada declaração milimetricamente misteriosa. Nosso envolvimento, ao passar dos dias, era firmado por mais um cadeado que nos unia. Eu acabara de conhecer a paixão. Que segundo ele é a “cápsula envolvente de um amor platônico e idealizado como os românticos o fizeram”.

Continua na próxima semana...

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Nice e a vida - Capítulo II - Parte três


Ele era de uma sensibilidade imensa, a educação e o cuidado como o de quem acaricia as pétalas de uma rosa à espera do orvalho. Seu coração era maior do que o de Iracema, a virgem dos lábios de mel. Seu aroma era como um mar de lírios onde os mais nobres livros devem repousar. E seu olhar me apaixonou.
Ele não era tão alto, tinha os cabelos amarelados como o sol amanhecido e escuros como o entardecer. Até o momento só trocávamos olhares. E resolvi começar a falar. Contei-lhe da escola onde o tinha visto pela primeira vez, do meu curso, de quando o vi novamente, do meu gosto por livros. E não pude deixar de perguntar dele. Sobre o que aconteceu durante nosso “desencontro” imprevisível, sobre os gostos e desgostos, e sobre os projetos de vida. Ele, misteriosamente, respondeu-me que adorava ler e escrever seus poemas, que durante sua saída daquela escola (em que estudamos juntos) ficou escrevendo descontroladamente. E por fim, disse-me que cada passo de seu dia era uma trama de mistérios onde um poeta, às vezes romântico, tinha que preocupar-se com as possibilidades e desafios encontrados. E que não seria difícil dialogar com uma pessoa tão exploradora de livros como ele. Era a mim que ele se referia. Ele saiu. Eu saí. E naquela biblioteca, os livros eram cúmplices de um dos momentos mais importantes de minha vida. O momento do reencontro com meu passado, com o garoto que por tanto tempo me intrigou. Cada página, cada letra, ouvia a suave voz do poeta e da dama. Uma história acabava de começar e o “Era uma vez...” provinha dos saberes entrelaçados em cada livro ali presente. A luz apagou-se, e na penumbra, a cadeira onde ele havida sentado ficou a espera de um novo amanhecer, onde novas conversas tão enigmáticas e apaixonantes seriam tecidas e contracenadas por tão bons atores como nós mesmo fomos.

Continua na próxima semana...

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Nice e a vida - Capítulo II - Parte dois


Passaram-se mais uns cinco anos. Minha vida estava basicamente estável. Nada de mais, nada de menos. Sem excessos ou virtudes. Era um jogo de sobrevivência. Comia para não morrer de fome, estudava para conseguir, talvez, um emprego melhor. Sim, eu trabalhava como balconista em uma livraria. Um sebo na verdade. E ganhava muito pouco.
Na faculdade onde estudava eram poucos os amigos. Na verdade, nenhum. Só os famosos colegas de sala que nada mais fazem a não ser acompanhar-me no intervalo. E uma série de trabalhos estava por vir. Eu, como sempre, estava sozinha nesta jornada, passando o dia inteiro na biblioteca da faculdade estudando, fazendo e refazendo os trabalhos. Pesquisando e pesquisando mais ainda. E foi em um desses dias, à tarde, que reconheci uma pessoa que nunca tinha visto por lá e por alguns anos não via em lugar algum. Era ele. O garoto. Mas não tive coragem de me aproximar. Na realidade foram dias até que eu me adaptasse a sua presença diária e repentina na biblioteca. Até que ele mesmo lançou-me olhares. Cada dia um mais intrigante. E resolvi me aproximar. Cabelos embaraçados ao vento e com as armas que eu precisava para me afastar rapidamente se for preciso: minhas pernas e minha coragem.

Continua na próxima semana...

domingo, 30 de setembro de 2012

Um teatro, uma vida, uma escolha

   Pela segunda vez estive em um palco me apresentando para muitas pessoas. Com a criação do projeto Pérola Cultural, em minha escola um ano antes, os aprendizados de dança, música (coral), flauta e teatro foram reunidos em um espetáculo detalhadamente planejado. Ano passado, pela primeira vez, me apresentei. A emoção em decorar algumas falas, em apresentar tudo isso para um público bem maior que o imaginado e ainda por cima, aguentando o "frio na barriga". Foi difícil, um período de conquistas, de sonhos, de felicidade. Cada passo dado ao sair do palco deixava-me mais próximo do teatro. Não era somente divertido, era imensamente maravilhoso.
   Um ano se passou e meu gosto pelo teatro só aumentou. Poder me expressar artisticamente e de uma forma tão natural, tão viva e especial. O teatro acabara de aderir à minha vida, mas antes de me convencer, era preciso uma última prova de que dele eu nunca mais ousaria me separar. 
   Comecei, no início deste ano, a frequentar as aulas de teatro da escola. Junta à turma, os jogos teatrais e os diversos exercícios cênicos eram protagonizados por nós: jovens. A turma era pequena, seis alunos. Eu e mais cinco meninas. Sem contar um pessoal de outras idades e anos compondo outros grupos. Em plena véspera de férias ficamos sabendo da certeza de enfrentarmos mais uma vez o palco. Num espetáculo intitulado "Era uma vez...". As férias passaram e, com personagens e falas em mãos, restou-nos estudar o texto, ensaiar e ensaiar novamente. Foi preciso manter a concentração e dedicação para tornar-se possível uma boa apresentação. Claro, não faltaram ensaios para marcar saídas e entradas com as outras turmas da escola. Mesmo assim, o tempo parecia curto. Muito curto.
   Chegara o dia da apresentação. Com as cenas prontas e devidamente ensaiadas, só restava-nos agradecer pela ótima oportunidade. Eu e as cinco meninas retomávamos o texto a cada dois minutos, para aperfeiçoá-lo cada vez mais. E com isso o tempo foi passando, chegamos no teatro e ficamos na espera do início do espetáculo. Tudo mudou, o "jogo" acabava de se inverter.
   Foram minutos extremamente angustiantes. As falas pareciam fugir de nossas cabeças e, por mais incrível que pareça, eu não tinha o medo do ano anterior. Mas elas, minhas companheiras novatas o tinham, e muito.    Eram constantes as perguntas como: "será que vou conseguir?", "será que vou esquecer, ficar envergonhada em frente aos vários conhecidos?" "será que terei coragem?". Difícil era responder. Mas, aos poucos, nós seis nos unimos, com pensamentos positivos, rituais e coisa e tal. Agradecimentos e pregações do tipo: "inspirar a luz e soltar a tensão". Sem contar os famosos "Merdas" tão ditos, e tão bons. E não há controversas. Via nos olhos delas o desespero de "primeira viagem". O nervosismo tão presente em todas, até nas que pareciam mais preparadas. Elas tremiam, nervosas, ansiosas, preocupadas. Como já havia passado pelo mesmo um ano antes, tentava confortá-las, mas quê sabia eu sobre isso, afinal era apenas minha segunda peça. Mesmo assim, fique forte, aguentei a pressão, pois percebi que, naquele momento, enquanto o professor também se preparava e ajudava outros nos camarins, eu tornava-me parâmetro pra elas. Parâmetro de confiança e controle que, mesmo não estando assim, era preciso manter a "pose", para que não se sentissem desapoiadas. Era difícil pra mim e pra elas. Mas, tentei presenteá-las com a segurança e a fala de que tudo daria certo, que era mais fácil do que parecia, e que bastava concentrar-se e incorporar o personagem, sabendo o momento certo de um improviso, caso preciso. A nossa cena era a segunda, e a cada segundo que a antecedia deixávamos nervosos ao extremo. Os lances de luz, as mudanças de cor em nossas faces representavam o tempo, que passava muito rapidamente. O momento tão esperado acabava de chegar.
   Sete segundos de uma música serviriam como sete mandamentos para nós. Era preciso nos preparar para encarar o palco, o público, os amigos. 1seg. e o coração começava a acelerar e o batimento era mais rápido e tudo passava em nossa cabeça, assim como os próximos 4 segundos e todo o texto já decorado queria desaparecer e ficávamos ofegantes e esquecíamos de vírgulas e de frases e de textos e da tão querida gramática que não permite tantos "e`s". Respirávamos e nos dois próximos segundos a consciência nos faltou. O ar sumiu. O cheiro era de palavra, de cena, de luz. A temperatura aumentava. O racional era substituído pelo irracional. O corpo estava ligado no automático, o pensamento em câmera lenta, as mais de trezentas pessoas eram como vultos que nos esperavam junto à "luz do fim do túnel". Entramos no palco e, com o foco em nossas cabeças, começamos a cena, encaramos o público, engolimos o medo, respiramos a arte, a vida. Terminamos, saímos do palco, e a cada aplauso, a consciência era retomada. Tínhamos a certeza, então, que tudo dera certo. Corremos de encontro uns aos outro e, com um abraço comunitário, confirmamos o que foi tão dito: que ocorreria tudo bem. Rimos abraçados e agradecemos pelo momento, pela oportunidade, pelo "friozinho na barriga", pelo teatro existir, pela arte existir, por aguentarmos tudo aquilo juntos e por sermos parceiros teatrais. A cada nova entrada e retirada dos palcos nos encontrávamos e parabenizávamos uns aos outros.
   Um tempo depois a peça terminou, nos despedimos, fomos encontrar outros amigos que nos apreciaram. E eu acabara de conseguir a última prova de que falei. A minha vida era o teatro, ele tinha enorme importância pra mim. E como retomada de consciência, numa epifania momentânea, lembrei-me de uma querida amiga, professora, que muito me influenciou no gosto pela arte, no amor pelo teatro. Ela, minha professora de teatro até a sétima série, lá no sul, a Joanna. Como a agradeço! Por um momento percebi que o teatro era mais importante para mim do que o imaginado. E que se eu aceitar essa jornada, será mais difícil e íngreme do que o pensado, porém será feliz, divertida, artística, do modo que gosto, podendo me expressar pelo teatro e viver por ele se possível.

   A decisão é difícil, ainda não foi tomada, mas é com essas palavras que tento explicar o que senti quando, sobre isso, pensei!!!




   

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Nice e a vida - Capítulo II - Parte um


II. O início de um encontro



Eu recentemente havia me mudado para aquela cidade. Depois da morte de meu pai, eu e minha mãe não tivemos outra opção. Ela foi á procura de um emprego e eu de dar continuidade ao último ano de minha formação estudantil antes da faculdade. Foram tempos muito difíceis. Ao encontrar emprego, minha mãe tornou-se ainda menos presente e eu passava mais tempo na escola, do que em minha própria casa. Era tudo diferente pra mim, novos amigos, nova turma, nova escola. E em meio ao caos só não pude deixar de notar um garoto um tanto quanto diferente. Nunca tinha falado com ele diretamente. Muito menos lembrava seu nome. Aí que mais me culpo.
Cada dia que se passava minha curiosidade em descobrir quem era este garoto só aumentava. Mas evitei me aproximar, não queria que ninguém percebesse, ou que isso, de alguma forma, pudesse fazê-lo se afastar. Durante muito tempo o segui. Só que de nada adiantou, ele mudou de escola e temi que a culpa disso fosse minha. Para completar, minha vida já estava muito turbulenta. Com minha mãe doente nada me adiantou fazer. Foi o mesmo que esperar sentado o recibo de morte confirmada. A doença já estava grave e os recursos para o tratamento eram razoavelmente escassos. Ela morreu. E as lágrimas despejadas serviram simplesmente para confirmar o preço do túmulo. Eu estava sozinha novamente, como nos longos períodos que passava na escola. Sozinha, deveria trilhar meus caminhos em busca de um rumo para minha vida. O turbilhão já havia sumido. E o garoto também.

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Nice e a vida - Capítulo I - Parte três


Passaram-se horas e eu, com eles, esqueci-me dele. Momentaneamente.
Sim, era outro dia e eu acabava de acordar em meu famoso quartel. Meu quarto querido. Sem me esquecer dele. E morrendo de vontade de encontrá-lo. E fui.
Por sorte, estava na casa. Na mesma casa onde me olhavam ontem. E era ele. Ele que me olhou fixamente. Só que o nervosismo não me tinha deixado perceber. Como pude esquecer de meu querido Poeta tão amado? E pensar que ele me deixou só, naquele corredor, dizendo “Preciso retomar minhas escritas alucinadas, afinal, você sabe por que estou aqui. Seguirei meu caminho e você prometerá não me ir atrás. Tenho a leve impressão de que me perseguem e me procuram, estou com medo e não devo deixar minhas escritas, minhas reflexões de um poeta mal amado, correndo perigo. Não me siga ou me espere nunca mais.”. Correr atrás dele poderia ter mudado minha vida. Mas não o fiz. Havia prometido. Recolhi-me os cacos, como já lhes disse, e fugi. Se é que posso fugir, afinal já estava sozinha e nada e ninguém me perseguia. Imagino.
Sei como tudo deve estar confuso para você. Por isso, falarei sobre mim e sobre ele, o Poeta inatingível.

Continua na próxima semana...

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Nice e a vida - Capítulo I - Parte dois


Andando um pouco mais, passei pela biblioteca que durante muito tempo frequentei. Antes de conhecê-lo. Lá, os livros eram como as âncoras dos navios, impedindo-me de sair sem terminá-los, de sair ao caos e afogar-me nas grotescas ondas de um mar profundo. E foi o que fiz. Afoguei-me. Mas, nos livros. O cheiro da página virada dava-me fome, fome de lê-lo e relê-lo e relê-lo. Lá, cada estrofe era uma vida que se renovava, uma parte do livro que se acoplava em meu mundo, junto às ideias mirabolantes de ser uma leitora, escritora e amante fiel dos livros. Corri.
Por um instante pensei ter feito a coisa certa, mas de certo só o errado acerto. A chuva continuava e meu cabelo, já ensopado, não tinha mais forma. Continuei caminhando para então, parar e lembrar-me de mais uma das entranhas de minha vida, minha vida cruel. Lembrei-me dos tempos em que estudei naquela escola. Das brincadeiras escassas de maldade, cheias de prazer, dos amigos, professores, dos cantos e recantos, das vidas lá vividas e de cada peça do meu quebra-cabeça vital lá reconstruída. O portão, lembrava-me dos sonhos que lá tive e que lá ficaram guardados, vigiados pelo cadeado que o trancava.
Mas me deixem ir. Lembranças fazem-me escorrer lágrimas. E continuei a correr. Correndo na chuva. Se é que choveu, pois corri boa parte do percurso desperdiçando lágrimas. Inesgotável. A cada passo, as lembranças dos nossos momentos juntos não me saíam da cabeça. Eu me arrependia mais, e mais e mais de ter corrido quando passava em frente a sua casa. Mas como falei, foi minha já esgotada coragem, que sumiu sem deixar rastros. Continuei andando até encontrar uns amigos e assim, me recompor.


Continua na próxima semana...


terça-feira, 4 de setembro de 2012

Nice e a vida - Capítulo I - Parte um


I. Á procura dele



            E pensar que correr por aquele corredor poderia ter mudado minha vida. Não. Já foi. Já passou. E o que sinto, não faz mais diferença agora. Ele saiu, me deixou e só resta recolher-me os cacos e fugir.
            Assim me senti no primeiro dia. Quando nos aproximamos, não sabia mais como construir meu mundo. Se recolhia os cacos, ou reconstruía com novos materiais. Essa foi a dúvida.
            Então, saí correndo e cá estou, neste beco (se é que posso chamar quarto de beco, afinal é onde me recolho nas fraquezas e virtudes) sozinha. Não sei o por quê? Nem como isto aconteceu. Mas vou começar do próprio começo. Se é que me permitem tal falta de comprometimento com ela, a culta norma.

            Aos poucos me preparava para o momento. O momento certo daquilo.
Passei pela casa dele logo de manhã, junto à translúcida chuva matutina. Onde cada pequena gota escorregava pelo ar não tão poluído, como o diamante a escorrer do olhar. A meu ver, a casa estava escurecida, a treva haveria passado por ali também, como em toda casa onde se deixa sonhar livremente e pelo tempo que for preciso. Não percebi que dali olhavam-me. E nem como isto mexeu com minha vida, quebrando o cristal mais precioso, a coragem, e deixando-me na dúvida. De ir ou não ir. Voltar ou não voltar. Ou como diz Hamlet: “Ser ou não ser”. Tal dúvida não me deixava consolar aos pensamentos.



Continua na próxima semana...

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

O preço da liberdade


Até que ponto somos livres para escolher o que comemos, pra onde vamos, o que estudamos? É possível ter liberdade pra conduzir nossa felicidade?

São perguntas difíceis de responder e mais fáceis de questionar. Não somos livres para tomar nossas próprias decisões á respeito da vida, do mundo. Por todos os lados as interferências em nossa opinião só tende a aumentar. Muitas vezes, alguns acham que tendo dinheiro serão mais livres que outros. Na “Ilha das Flores” isto realmente acontece. Quem não tem dinheiro para comprar a própria comida, come o resto. O resto do que os porcos não comem. Da comida estragada, suja, jogada fora. É o que sobra. É o preço a ser pago pelos que não tem condições financeiras para serem livres. Mas cadê a liberdade? A única resposta, é que, para estas pessoas não existe, nem mesmo a distinção de animal para ser humano. A vida é esquecida e sobrevive quem tem tempo para selecionar o melhor do pior da humanidade. A desigualdade. A liberdade dos que lá vivem é totalmente irreconhecível, inexistentes. É tão sonhada e tão impossível.

Vivemos condenados em um mundo onde cada opinião é julgada e rejeitada quando bem entendemos. Onde nossos valores são contrapostos e sobjulgados. São esquecidos e somente aceitos quando convém aos que tiram vantagens disto.

A vida não está tão livre quanto pensamos. A felicidade só nos é oferecida, quando pagamos caro por ela. E a liberdade de todos já não existe, é de uma minoria “ditadora” das regras, e com dinheiro para pagar o preço da vida. E como nos disse Montesquieu, "A liberdade é o direito de fazer tudo o que as leis consentem".

Abaixo o vídeo "Ilha das Flores", para pensarmos mais sobre o assunto!!!


quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Morte de Tinta

   E para terminar a "Trilogia Mundo de Tinta" temos Morte de Tinta, mais um maravilhoso livro de Cornelia Funke!!!

   E neste livro, a continuação da aventura é o que mais nos intriga. Desde que Meggie, Mortimer e Resa "entraram" no livro, no Coração de Tinta, Elinor está desesperada.
   Mortimer, o intitulado Gaio, vive as aventuras que jamais teve coragem de apreciar. E em meio ao caos, alguns personagens ganham a cena, entre vilões e vilãs temos vários, dese Pardal até Cabeça de Víbora. E juntando-se a Meggie e Farid, temos um terceiro, formando um trio pelo qual Meggie terá muitas dúvidas. Entre um e outro. E a decisão fica cada vez mais difícil.
   Sem acabar com a magia de um história bem-lida, conto-lhes somente que em meio as brigas e fugas, o reencontro de Elinor com os outro se dá dentro do livro e o vilão, é claro, fica cada vez mais misterioso. Evidente que com ajuda de uns e outro, é possível averiguar um final totalmente inesperado e excepcionante... De modo que não conto-lhes os detalhes. O melhor é descobrir por si só!

Abaixo, algumas citações do livro muito interessantes:

"O caminhante escolhe a trilha, ou é a trilha que escolhe o caminhante?" Garth Nix, Sabriel

"E ás vezes em um velho livro/Está marcado algo de inconcebível escuridão./Ali, onde estivestes um dia./Para onde você escapou?" Reiner Maria Rilke, Improvisationen aus dem Capreser Winter III

"Há algo nela que foge às palavras." John Steinbeck, Travels with Charley: In search of America

"'sem problemas!', exclamou Aber, a poupa. 'Toda história que tenha algum valor pode suportar um pouco de embate'" Salman Rushdie, Haroun e omar de histórias

"O cheiro de terra úmida e vegetação nova se apodera de mim, aquosa, escorregadia, com um gosto que lembra o ácido, como casca de árvore. Tem cheiro de juventude; tem cheiro de coração partido." Margaret Atwood, O assassino cego

"Porém, tudo aquilo era apenas o espanto da noite, fantasmas do espírito caminhando na escuridão." Washington Irving, The legend of Sleepy Hollow

"Nenhuma de nós era a verdadeira autora: seu punho é mais do que a soma de seus dedos." Margaret Atwood, O assassino cego



Espero que gostem, apreciem e leiam o livro!!!


domingo, 26 de agosto de 2012

“Nice, biografando-a”


  
   E para introduzir você, leitor, na vida de Nice, coloco esta breve biografia misteriosa da personagem!!!



“Nice, biografando-a”


            Ela, que com a vontade que tem, vive intensamente, valorizando cada palavra, cada cor, cada sentir. Procurando cada vez mais se expressar, mergulhando nas palavras e espalhando-as por toda a parte, em todo o mundo. Com seus cachos cor do réu, atacados por olhares e laçados por amores.
            Aos passos e tropeços se dedica a revirar o mundo, por mares não sonhados em busca de uma interpretação séria do que é ser ela.
            Lendo, lendo e lendo se cria, se transforma e deforma. Assim como ela, que conhece, reconhece e interage facilmente aos que a ti recorrem.
            Fugitiva de seu “eu”, transcreve loucamente sua paixão tampouco revelada. Sua empreitada a enfrentar pelo amor, pelo sonho, pela certeza de que um dia dará certo.
            Assim, fala aveludadamente de se dom, seu tom, sua perspicácia. E retrata seus ideais, criticando fugitivamente sua leal escudeira, sua paixão certeira, seu tecido a ser desfiado pelo olhar.
            E você? Como? Por quê? Esqueceu dela? Que com sublimes manchas marcou, como a brisa a movimentar sucintamente o orvalho amanhecido.

            Nice, cadê? Por quê?
            Para onde foi?
            Onde andas?

            Inspiro-te!

sábado, 25 de agosto de 2012

Pela primeira vez....

    Anuncio com este post, que à partir de hoje, toda semana terá uma postagem sobre uma aventura, uma história e algumas dúvidas, um amor inatingível, e as consequências disto tudo. Toda terça-feira (3a) uma nova postagem sobre "Nice e a vida!"....

    Espero que gostem!!!