Acordei, dessa vez antes que ele. Tomei um
banho, preparei um café e fiquei a sua espera. Como ele não acordava, comecei a
observar sua casa, seus móveis, suas coisas. Foi aí que encontrei um bilhete, próximo
a uns cadernos em uma mesa de canto. Mais especificamente um recado. Intitulado
como: “para um tolo”, era de autoria do Doutor C. Este avisava-lhe do tempo que
tinha para se entregar, caso contrário eles já haviam descoberto o local onde
mora, pois o tinham visitado na noite passada. Suspirei. Meu espanto foi
enorme. O nervosismo acabara de iniciar e percebi o perigo que estávamos
correndo. Observando a data, descobri que essa “noite passada” foi ontem,
depois que dormimos. Lágrimas correram por minha face e tive medo de estar
sendo conivente para uma situação como em Hamlet, onde a morte foi a protagonista
e, ao mesmo tempo, foi o clímax da situação. Bastou o poeta acordar para
descobrir por mim, o que acabara de encontrar.
Não conseguimos ao menos encostar nos lábios
a comida. O ódio tornava-se visível. Pegamos algumas coisas, entre roupas e
documentos importantes para então, sairmos daquela casa sem o intuito de
voltar. Os passos largos e apressados demonstravam a rigidez de nosso amor.
Conseguimos, inicialmente, um hotel em uma cidade vizinha, porém afastada da
circulação comercial e turística. Instalamos-nos e por horas não trocamos uma
sequer palavra sobre o acontecido, ou o que poderia vir a acontecer. Nossos
lábios úmidos tocaram-se e, por um segundo, a conexão entre nossas almas era
mais forte. Um beijo serviu como protagonista para nossa noite. Durante a noite, sem conseguir dormir, passei meu tempo
entretida em um livro que comprara em uma loja local. Adormeci junto às
palavras, junto ao poeta.
Continua na próxima semana...
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Esboços