Ele era de uma sensibilidade imensa, a
educação e o cuidado como o de quem acaricia as pétalas de uma rosa à espera do
orvalho. Seu coração era maior do que o de Iracema, a virgem dos lábios de mel.
Seu aroma era como um mar de lírios onde os mais nobres livros devem repousar.
E seu olhar me apaixonou.
Ele não era tão alto, tinha os cabelos
amarelados como o sol amanhecido e escuros como o entardecer. Até o momento só
trocávamos olhares. E resolvi começar a falar. Contei-lhe da escola onde o
tinha visto pela primeira vez, do meu curso, de quando o vi novamente, do meu
gosto por livros. E não pude deixar de perguntar dele. Sobre o que aconteceu
durante nosso “desencontro” imprevisível, sobre os gostos e desgostos, e sobre
os projetos de vida. Ele, misteriosamente, respondeu-me que adorava ler e
escrever seus poemas, que durante sua saída daquela escola (em que estudamos
juntos) ficou escrevendo descontroladamente. E por fim, disse-me que cada passo
de seu dia era uma trama de mistérios onde um poeta, às vezes romântico, tinha
que preocupar-se com as possibilidades e desafios encontrados. E que não seria
difícil dialogar com uma pessoa tão exploradora de livros como ele. Era a mim
que ele se referia. Ele saiu. Eu saí. E naquela biblioteca, os livros eram
cúmplices de um dos momentos mais importantes de minha vida. O momento do
reencontro com meu passado, com o garoto que por tanto tempo me intrigou. Cada
página, cada letra, ouvia a suave voz do poeta e da dama. Uma história acabava
de começar e o “Era uma vez...” provinha dos saberes entrelaçados em cada livro
ali presente. A luz apagou-se, e na penumbra, a cadeira onde ele havida sentado
ficou a espera de um novo amanhecer, onde novas conversas tão enigmáticas e
apaixonantes seriam tecidas e contracenadas por tão bons atores como nós mesmo
fomos.
Continua na próxima semana...
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