Por mais de um mês ficamos a nos encontrar no
mesmo local. Para conversar. Somente. E ouvir de sua adocicada voz, resquícios
dos poemas mais atingíveis que já ouvi. Eram para mim. Todos, sem exceção.
Durante muito tempo, muitos dias e semanas. Minha vida realmente teria mudado.
Eu estava apaixonada. Por ele. Pelo poeta. E cada vez mais feliz por isso.
Havia dias em que ele me levava rosas. Das
mais perfumadas e acaloradas que eu já tinha visto. O perfume conseguia ser tão
presente quanto o dele. O carinho em suas atitudes, em sua voz,
sensibilizava-me. Clareava meus caminhos. Perfumava minha vida. As longas
conversas estavam longe, mas muito longe, da monotonia de outros tempos. Eu era
uma nova moça, uma moça-mulher. E como, cada vez mais, ele me encantava eu não
sabia. Era amor na certa. Ou dó de um pobre poeta desalmado. Cujos poemas não
serviriam para nada além de alimentar-me as lágrimas suavizadas pelas olheiras
das noites mal dormidas. As noites em que pensei nele e em sua poesia.
O mundo mudara para mim. De uns tempos pra cá
a vida era a semelhança de uma certeza que eu ainda deveria confirmar. E todos
os acontecimentos serviam de afirmação para cada declaração milimetricamente misteriosa.
Nosso envolvimento, ao passar dos dias, era firmado por mais um cadeado que nos
unia. Eu acabara de conhecer a paixão. Que segundo ele é a “cápsula envolvente
de um amor platônico e idealizado como os românticos o fizeram”.
Continua na próxima semana...
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