III. Conversa pouco menos que dolorosa
Poucos segundos após minha chegada em sua
casa, voltei a ficar imóvel. A chuva que escorria pelas sinuosidades de meu
corpo fazia-me tremer de frio. Eu continuava sem coragem de bater na porta, por
mais sutil que fosse. Gradualmente a chuva foi aumentando, assim como os
calafrios pelo corpo. Minha imobilidade já durava alguns minutos quando ele
percebeu que havia alguém em frente à porta. Imaginei que minha sombra pudesse
tê-lo assustado, mas logo concluí que não. Ele jamais se assustaria com essas
coisas. Então abriu a porta e eu entrei, muda, molhada e espantada com a
situação que acabara de encontrar.
Sem uma única pergunta, fui conduzida até a
sala, ao lado esquerdo de um sofá, iluminada por resquícios de luz provenientes
de um abajur. Na penumbra, só era possível observar a silhueta de seu corpo
posicionado ao lado do meu, mesmo que ainda estivesse um pouco afastado. Foi
preciso mais alguns minutos para se iniciar o diálogo.
Percebi sua hesitação em me perguntar como o
encontrara. E para iniciar a própria conversa. Mas, aos poucos, a troca de
palavras tornou-se fluente. Quis saber o porquê de ele ter sumido tão
repentinamente. O que me foi respondido ricocheteou em minha mente. Disse-me:
“Era preciso fugir. Naquele momento me senti perseguido. Você sabia muito bem o
motivo para me encontrar ali, o motivo pelo qual eu gosto tanto da escrita e,
naquele dia, não me atrevera a escrever uma só palavra. Você sabia de tudo.
Tinha conhecimento do contrato de escrita que fiz. Eu não tinha alternativa, a
não ser fugir deles e me afastar de você. Para protegê-la e nada mais.”.
Continua na próxima semana...
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Esboços