domingo, 31 de agosto de 2014

Um retorno. Uma história. A mesma Nice.

    Caros leitores!
    Desculpem-me pelo enorme tempo ausente. Compromisso estudantis, projetos e a escrita de Nice e a Vida tomaram meus dias e noites, o que tornou impossível compartilhar com vocês nesse período. Mas como forma de recuperar os dias perdidos, adianto aqui que a vida de Nice está quase ultrapassando a marca de 40 páginas. E para compensar, a partir de hoje estarei postando no blog os capítulo novamente, o que me proporciona uma margem de texto suficiente para que eu poste e escreva simultaneamente essa história mágica, cheia de suspense e romance em cada frase. Espero que gostem!!!

Abaixo o primeiro capítulo completo de Nice e a Vida:

I. À procura dele

            E pensar que correr por aquele corredor poderia ter mudado minha vida. Não. Já foi. Já passou. E o que sinto, não faz mais diferença agora. Ele saiu, me deixou e só resta recolher-me os cacos e fugir.
            Assim me senti no primeiro dia. Quando nos aproximamos, não sabia mais como construir meu mundo, se recolhia os cacos, ou reconstruía com novos materiais. Essa foi a dúvida.
            Então, saí correndo e cá estou, neste beco (se é que posso chamar quarto de beco, afinal é onde me recolho nas fraquezas e virtudes) sozinha. Não sei o porquê? Nem como isto aconteceu. Mas vou começar do próprio começo. Se é que me permitem tal falta de comprometimento com ela, a culta norma.

            Aos poucos me preparava para o momento. O momento certo daquilo.
Passei pela casa dele logo de manhã, junto à translúcida chuva matutina. Onde cada pequena gota escorregava pelo ar não tão poluído, como o diamante a escorrer do olhar. A meu ver, a casa estava escurecida, a treva haveria passado por ali também, como em toda casa onde se deixa sonhar livremente e pelo tempo que for preciso. Não percebi que dali olhavam-me. E nem como isto mexeu com minha vida, quebrando o cristal mais precioso, a coragem, e deixando-me na dúvida. De ir ou não ir, voltar ou não voltar. Ou como diz Hamlet: “Ser ou não ser”. Tal dúvida não me deixava consolar aos pensamentos.
Andando um pouco mais, passei pela biblioteca que durante muito tempo frequentei. Antes de conhecê-lo. Lá, os livros eram como as âncoras dos navios, impedindo-me de sair sem terminá-los, de sair ao caos e afogar-me nas grotescas ondas de um mar profundo. E foi o que fiz. Afoguei-me. Mas, nos livros. O cheiro da página virada dava-me fome, fome de lê-lo e relê-lo e relê-lo. Lá, cada estrofe era uma vida que se renovava, uma parte da história que se acoplava em meu mundo, junto às ideias mirabolantes de ser uma leitora, escritora e amante fiel da palavra escrita. Corri.
Por um instante pensei ter feito a coisa certa, mas de certo só o errado acerto. A chuva continuava e meu cabelo, já ensopado, não tinha mais forma. Continuei caminhando para então, parar e lembrar-me de mais uma das entranhas da minha vida cruel. Lembrei-me dos tempos em que estudei naquela escola a minha frente. Das brincadeiras escassas de maldade, cheias de prazer, dos amigos, professores, dos cantos e recantos, dos momentos lá vividos e de cada peça do meu quebra-cabeça vital lá reconstruído. O portão lembrava-me dos sonhos que tive e ficaram guardados atrás de cada parede suja com os riscos de giz, os riscos da infância, vigiados pelo cadeado que o trancava.

Mas me deixem chorar. Lembranças fazem-me escorrer lágrimas.

E continuei a correr na chuva, desesperada por cada gota que esfriava meu corpo quente de saudade. Se é que choveu, pois corri boa parte do percurso desperdiçando lágrimas. Inesgotável. A cada passo, as lembranças dos nossos momentos juntos não me saíam da cabeça. Eu me arrependia cada vez mais de ter corrido quando passava em frente a sua casa. Mas como falei, foi minha já esgotada coragem, que sumiu sem deixar rastros. Continuei andando até encontrar uns amigos e assim, me recompor.
Passaram-se horas e eu, com eles, esqueci-me dele. Momentaneamente.
Sim, era outro dia e eu acabava de acordar em meu famoso quartel. Meu quarto querido. Sem me esquecer dele. E morrendo de vontade de encontrá-lo. Fui.
Por sorte, estava na casa. Na mesma onde me olhavam ontem. E era ele que me olhou fixamente. Só que o nervosismo não me tinha deixado perceber.

Como pude esquecer de meu querido Poeta tão amado? E pensar que ele me deixou só, naquele corredor, dizendo: “Preciso retomar minhas escritas alucinadas, afinal, você sabe por que estou aqui. Seguirei meu caminho e você prometerá não ir atrás de mim. Tenho a leve impressão de que me perseguem e me procuram, estou com medo e não devo deixar minhas escritas, minhas reflexões de um poeta mal amado, correndo perigo. Não me siga ou me espere nunca mais.”. Correr atrás dele poderia ter mudado minha vida. Mas não o fiz. Havia prometido. Recolhi-me os cacos, como já lhes disse, e fugi. Se é que posso fugir, afinal já estava sozinha e nada e ninguém me perseguiam. Imagino.
Sei como tudo deve estar confuso para você. Por isso, falarei sobre mim e sobre ele, o Poeta inatingível.